domingo, 24 de abril de 2011

“EU SOU UMA BONECA INFLÁVEL. SIRVO PARA SACIAR OS DESEJOS SEXUAIS ALHEIOS. EU SOU UMA SUBSTITUTA!”

Conheci o cineasta japonês Hirokazu Kore-Eda através de uma sessão cinematográfica que decepcionou a maioria dos presentes: além de não ser um filme fácil, “Maborosi, a Luz da Ilusão” (1995) distancia-se do público brasileiro por causa de sua lentidão e da estrondosa contenção de sentimentos. O segundo filme do diretor que vi, entretanto, “Depois da Vida” (1998), exibido pela TV Cultura, me encanou deveras. Tanto que precisei assisti-lo duas vezes seguidas, de tanto que me emocionei com a trama sobrenatural (porém demasiado crível) dos recém-falecidos que, num espaço parecido com o Céu dos religiosos ocidentais, são convocados a escolherem o momento mais inesquecível de suas vidas e refilmá-lo enquanto cena de cinema. Neste momento, tornei-me fã do diretor!

Apesar de ainda não ter tipo a oportunidade adequada para ver seu filme mais elogiado, “Ninguém Pode Saber” (2004), que já possuo disponível em casa, tive acesso a um filme menos conhecido, “Seguindo em Frente” (2008), simples porém deveras gracioso, sobre uma família numerosa que lida com suas frustrações pessoais enquanto comemoram o aniversário de um parente, que faleceu enquanto executara, ainda criança, um salvamento heróico. Um filme muito bonito, que só confirmou que eu era, de fato, fã do diretor.

Acostumado a seu estilo sensível, tomei um susto quando vi sendo anunciado, num canal fechado de TV, um filme intitulado “Boneca Inflável” (2009), atribuído a ele. Na sinopse do mesmo, uma boneca inflável ganharia vida e se apaixonaria por um atendente de vídeolocadora. Não consegui imaginar o que Hirokazu Kore-Eda faria com uma trama como esta, até porque, em seus filmes os personagens eram prontamente assexuados ou, no máximo, bastante sóbrios no que tange às funções familiares e reprodutivas do intercurso erótico. Nas primeiras cenas deste “Boneca Inflável”, um solitário trabalhador de meia-idade fode coma boneca e, logo em seguida, lava o tubo de borracha (correspondente à vagina dela) onde ele ejaculara. Tomei um susto mesmo: este é um filme de Hirokazu Kore-Eda?!

À medida que a trama evoluía, porém, num ritmo tão inverossímil quanto sentimentalmente metonímico, logo percebo que o que interessa no roteiro são as dificuldades de entrosamento social entre a boneca inflável tornada gente e as pessoas (solitárias) ao seu redor. Não chega a ser funcional ou efetivamente emocionante, mas os intentos diretoriais aqui compensam. E, nesse sentido, é difícil não se projetar na personagem quando ele tenta inflar a si mesma depois que descobre que tem um coração – e que isso dói!

Não é um bom filme, no sentido avaliativo mais geral do termo, mas ainda sou muito fã do diretor Hirokazu Kore-Eda!

Wesley PC>

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