quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

THE LOSS OF THE SEX, PERHAPS?

Num momento X, a esposa reclama que é injusto que seu marido reclame que ela esteja saindo com o menino que atropelou o seu filho quando ela própria nunca reclamou que ele está chegando com cheiro de maconha em casa todas as noites. E eles não fazem sexo há oito meses. Não que ele não tente, mas ela que não quer. Diz que não se sente pronta ainda. Ele gasta boa parte do dia revendo os últimos momentos filmados de seu filho quando vivo. Ela livra-se até mesmo do cachorro da família, para não se prender a lembranças. Tem como tudo se resolver num churrasco?

De coração, "Reencontrando a Felicidade" [péssimo título nacional para “Rabbit Hole” (2010)], o mais recente filme do outrora genial e mui sexualizado John Cameron Mitchell me surpreendeu mui negativamente. Não somente por ser um filme ruim e conservador – é reservado a qualquer pessoa o direito de ser responsável por estes adjetivos ao menos uma vez em vida pública – mas porque praticamente nega o ‘corpus’ bem definido que se constituía através do quase impecável “Hedwig – Rock, Amor e Traição” (2001) e do modorrento “Shortbus” (2006). O que terá acontecido com este diretor para se submeter a um exercício tão grave de mediocridade e tristeza artificial?! Senti vergonha pelos atores enquanto via o filme, posto que eles não pareciam querem nos emocionar, mas sim impressionar platéias de “especialistas” prontos para selecionar o filme para a temporada de premiações que se anuncia a partir do próximo domingo, dia 16 de janeiro, quando serão anunciados os vencedores do Globo de Ouro 2011, evento para o qual “Reencontrando a Felicidade” concorre em algumas categorias actanciais. Ledo engodo!

Pelo sim, pelo não, confiante que eu estava na sobrevivência do talento do diretor, cria que, a qualquer momento, uma cena realmente forte fosse espatifar o clima de vacuidade emotiva que se instaurava no roteiro malfadado de David Lindsay-Abaire (baseado em peça teatral de sua autoria), mas os 91 minutos de projeção do filme chegaram ao fim e o momento não veio. Admito que o elenco é muito bom (mas cerceado por esquematismos) e que o jovem Miles Teller, visto em foto, é uma grata surpresa, mas ínfima, muito ínfima, para me fazer entender o que se passou na cabeça de John Cameron Mitchell com este filme... Coitado da bicha genial e militante de antigamente!

Wesley PC>

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