domingo, 20 de dezembro de 2009

DOSSIÊ (FINALMENTE) COMPLETO: DANNY BOYLE!

Nascido em 20 de outubro de 1956, o britânico Danny Boyle dirigiu oito longas-metragens até hoje. Destes, eu tinha visto sete até o início deste domingo e, para além da irregularidade qualitativa de suas produções, sou fã do diretor, em virtude de seu estilo ‘pop’ arrojado e do tema recorrente em suas produções: a premência da individualidade em meio à identidade grupal de alguém. Com exceção de “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008), que aborda o tema de maneira um tanto escapista e popularesca, todos os filmes anteriores do diretor abordam este dilema de forma muito coerente e, visto que tive a honra de finalmente ter visto o elogiado “Sunshine – Alerta Solar” (2007) na tarde de hoje, cabe comentar cada filme, elogiosamente:

· “Cova Rasa” (1994): brilhante filme de estréia, em que três companheiros de quarto (um jornalista, um contador e uma médica) resolvem alugar um cômodo vago em sua residência a um estranho, que morre misteriosamente, deixando uma mala repleta de dinheiro da máfia sob a cama. As cenas repletas de violência e humor negro que acompanham os 89 minutos deste filme fazem com que repensemos extraordinariamente o que é amizade, conforme comentei noutra oportunidade, cheio de entusiasmo, aqui mesmo no ‘blog’;

· “Trainspotting – Sem Limites” (1996): um dos filmes mais seminais da década de 1990, este filme foi meu companheiro definitivo na época de ensino ginasial. Revia-o de mês em mês e não conseguia encontrar defeitos nesta obra eufórica sobre os prazeres e desprazeres da heroína (e do universo material psicodélico como um todo). O que torna este filme superior a quase qualquer outra obra que tenha abordado a complicada questão das drogas e/ou “expansores do músculo cerebral” é que ele não julga seus personagens. Estes o fazem por si mesmos, quando conveniente, seja numa conjunção de impotência sexual + diarréia, associada à bebedeira, seja no que diz respeito a quem seria amigo de verdade, levando à frente o tema do filme anterior, com o qual compartilha o excelente protagonista, Ewan McGregor;

· “Por Uma Vida Menos Ordinária” (1997): ainda com Ewan McGregor encabeçando o elenco, este filme recebeu críticas dos admiradores do cineasta, que temiam que ele tivesse se rendido a Hollywood, em virtude da leveza do tema, sobre um funcionário de banco que se apaixona pela filha (auto-)seqüestrada de seu chefe. Ainda que o susto inicial faça sentido, a bela trilha sonora do filme (encabeçada por R.E.M., Elvis Presley, Luscious Jackson, Ash, Underworld e Elastica), as ótimas interpretações do elenco e as situações inusitadas envolvendo luta de classes e anjos rebaixados dignificam o filme, fazendo com que percebamo-nos ainda bastante coerente em relação aos dois filmes anteriores;

· “A Praia” (2000): agora sim os temores dos fãs fazem sentido! Substituindo o companheiro habitual por Leonardo DiCaprio, o diretor se equivoca em muitas seqüências deste filme, que prega que a utopia à base de maconha e comida natural que os três mochileiros do filme encontram na Tailândia perdura até que a ambição livremente associada à vida em sociedade deslanche. Ou seja, se analisarmos o filme teoricamente, percebemos que ele é, sim, muito válido e interessante, merecendo revisões que fazem com que percebamos sua qualidade ao longo do tempo. No elenco, Virginie Ledoyen e Tilda Swinton brilham como interesses românticos diversificados do protagonista, que, em seqüências inspiradas, imagina-se como um herói de ‘videogame’, ao som de uma canção remixada do Blur;

· “Extermínio” (2002): protagonizado por um novo ator-fetiche do diretor, Cillian Murphy, este filme é um daqueles que considero um dos mais astutos olhares sobre o pós-modernismo (ou o que quer que estejamos vivendo agora). Mais do que ser uma ficção científica que mostre os efeitos destrutivos da ira, esta pungente obra pergunta-se como é possível que desejemos sobreviver num contexto em que “não há mais nenhum livro que não tenha sido escrito, nenhuma música que já não tenha sido composta, nenhum filme que já não tenha sido rodado”. Quanto mais o revejo, mais percebo o quanto ele é inteligente, inclusive, mais uma vez, em sua abordagem ambígua (leia-se: complexa) dos ônus e bônus do uso de drogas;

· “Caiu do Céu” (2004): talvez o melhor filme sobre catolicismo et alli. realizado em língua inglesa, este filme revive o pessimismo esperançoso de antes em duas crianças que encontram uma maleta repleta de libras, dinheiro que será inutilizado com a aplicação definitiva do Euro como moeda européia. A urgência dos garotos em gastarem o dinheiro entra em conflito com a fé extremamente hagiográfica de um deles, que anseia por utilizar a fortuna proibida e decadente da forma mais democrática possível, quiçá acabando com a fome na África. Na (como sempre) ótima trilha sonora, duas preciosidades: a amarga “Blackout”, do Muse, até hoje um das músicas ‘pop’ mais tristes que ouvi; e a idílica “Nirvana”, de El Bosco, que valida pro completo o mistério que circunda aquilo que parece (repito: parece) um final feliz;

· “Sunshine – Alerta Solar” (2007, vide foto); recém-assistido e ainda parcialmente digerido, este talvez seja o filme em que Danny Boyle menos exercita seus virtuosismos de câmera e montagem, mas o roteiro do colaborador habitual Alex Garland permanece brilhante. Em dado momento, estamos obrigados a responder, junto aos personagens, como “pesar a vida de alguém contra o destino de toda a humanidade”. No elenco, ótimas interpretações de Chris Evans, Cillian Murphy (novamente) e a especialista em ‘kung fu’ Michelle Yeoh, magnífica como a ecológica Corazón, responsável pela conservação do oxigênio necessário para que a nave Icarus II consiga alcançar o Sol, com o intuito de reanimar a estrela moribunda;

· E, por fim, “Quem Quer Ser um Milionário?” (2008, co-dirigido por Loveleen Tandan), decepcionante incursão pelo rentável circuito cinematográfico bollywoodiano, em que retrata a ascensão midiaticamente meteórica de um favelado, que sobrevive ao preconceito religioso, à prostituição e ao tráfico de drogas e se torna um astro televisivo, mesmo que seja parcialmente alfabetizado. Mesmo sendo um filme com uma ingenuidade atroz e quase imperdoável, ele recebeu inúmeros prêmios ao redor do mundo, o que fez (agora sim, logicamente) com que os fãs do diretor se preocupassem com a sua rendição a um sistema emburrecedor de produção fílmica. Os atributos técnicos do filme, entretanto, são excepcionais e, como tais, evitam que o filme seja um fracasso completo. Pode parecer que não, mas Danny Boyle ainda está lá...

E é isso: que venham os próximos filmes: o próximo título a ser confirmado é “127 Hours”, sobre a história real de um alpinista obrigado a amputar seu próprio braço para sobreviver a uma escalada calamitosa, previsto para ser filmado em 2010. Por enquanto, mantenho a minha crença: Danny Boyle é um gênio pós-moderno!

Wesley PC>

Um comentário:

joyce Pretah disse...

estava pela internet lendo um pouco mais sobre apartheid,tutsis e hutus....sobre o genocídio em ruanda .....fui ver umas imagens no google e cheguei até a comunidade gomorra.

muito bom o post que vc fez.....fechando com chave de ouro com ''como doos e dois''.


mto bom seu blog^^

e sobre o boyle:meu prferido é transpotting,que a cada vez que vejo sinto uma viagem diferente^^

um beijo^^

passa no meu blog depois!!!!

bjbj