domingo, 22 de novembro de 2009

O QUÃO HOMOSSEXUAL ESTA DEVOÇÃO...?


O homem que assumiu a responsabilidade pelo assassinato de Jesse James (1847-1882) foi alguém que o venerou desde a infância. Guardava todos os recortes de jornais sobre suas façanhas, conhecia detalhes pessoais sobre sua vida como os dedos que faltavam em suas mãos ou o número de sapato que ele calçava, observava-o até mesmo durante o banho, com o pretexto de que estava apenas a imaginar onde ele guardava os revólveres neste instante...

O homem que assumiu a responsabilidade pelo assassinato (por trás) de Jesse James, um dos bandidos mais célebres dos EUA, corroeu-se até o dia em que também foi assassinato e o atirador que ceifou a sua vida foi inocentado por petições populares.

O homem que assumiu a responsabilidade pelo assassinato de Jesse James o reproduziu no teatro, tantas e tantas vezes que chegou a acreditar que algum dia receberia um aplauso. Não o recebeu. Entendeu o porquê, mas também cria que não poderia ter sido diferente. Havia uma recompensa. A prisão do fora-da-lei era certa. A devoção era cadente com o tempo, em virtude da instabilidade compreensível do humor de seu antigo muso da pistola. Ele foi apenas um avatar precipitado...

Vi agora “O Assassinato de Jesse James Pelo Covarde Robert Ford” (2007, de Andrew Dominik) e fiquei ao lado daquele que é julgado até mesmo pelo título do filme. Na trilha sonora, Nick Cave quase me fez chorar na cena em que o assustado (e apaixonado) personagem de Casey Affleck deita-se na cama de Jesse James (interpretado por Brad Pitt), bebe da água depositada num copo à beira da cama, cheira os seus lençóis e fronhas, esfrega os dedos em seu peito e imagina-se com 34 anos de idade, sem o dedo médio da mão direita. Naquela cena, imaginei um futuro para mim mesmo, devoto. Devoto e covarde.

Quando morto, Jesse James foi objeto de fetiche. Seu corpo inerte permaneceu sobre um jazigo de gelo por meses. Foi fotografado, visitado, pintado, litogravado, lembrado e defendido tardiamente por alguns dos visitantes. Quando morto, Robert Ford esteve morto. Mas insisto é foi com ele que eu mais me identifiquei.

Wesley PC>

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