Após a reunião do grupo de estudos de que participo todos os
sábados, desta vez prejudicada por uma ruptura íntima entre dois de seus
membros mais falantes [eu e um puxa-saco intelectual ao qual me comprometo,
daqui por diante, em não mais apelidar pejorativamente (por mais que eu
acredite que ele seja merecedor das piores pechas)], convidei alguns de meus
melhores amigos para acompanharem-me numa apresentação teatral que muito me
enchia de expectativas, não obstante eu não saber nada sobre a peça em questão,
exceto o nome, o grupo por ela responsável e o Estado de proveniência deles: “
Flor de Macambira” (que, posteriormente, soube ser baseada na peça “O Coronel
de Macambira”, de Joaquim Cardozo), interpretada pelo grupo paraibano Ser Tão
Teatro.
Ao descermos do ônibus, depois de eu ter discutido com dois
destes amigos, justamente por causa das conseqüências nocivas de minha briga
com o rapaz verborrágico mencionado no primeiro parágrafo, desejei que a peça
não fosse ruim: precisávamos nos divertir juntos naquela noite! Ao adentrarmos
o teatro, percebemos que o mesmo estava lotado. Sentamos numa bancada em frente
ao palco (por causa, disso, inclusive, "participei" simbolicamente do espetáculo ao ser interpelado pelos personagens) e, desde a entrada festiva em cena do grupo, empolguei-me: tinha
certeza de que gostaria bastante da peça a partir daquele instante. Mais: seus
diálogos continham várias reverberações do que discutimos naquela noite...
Na peça, uma mocinha do interior apaixona-se por um
raquítico sertanejo e, a despeito do pai da primeira opor-se ao relacionamento
deles dois, ela foge com ele. No trajeto para a felicidade do casal, encontram
diversas tentações, relacionadas a uma correlação contemporânea entre o Mal (no
sentido satânico do termo) e o capitalismo hodierno (em suas acepções neoliberais
tipicamente brasileiras). Assim sendo, a doce Catirina e o gracioso Mateus são
vilipendiados por um coronel com tendências pederásticas, por um bicheiro enganador,
por mascates oportunistas, por um padre interesseiro, por bancários sagazes e
por entidades fantasmagóricas da floresta. Mas, ao final, o amor é mais forte,
num desfecho que emula a mais arquetípica tragédia romântica shakespeareana,
mas que a converte em puro chiste localista. Achei tudo absolutamente
encantador: não apenas amei a peça como também achei particularmente
emocionante quando, ao final da apresentação, um dos atores (Gladson Galego) mencionou
que era sergipano, que estivera no Estado três anos, quando seu pai havia
falecido, e que, nesta ocasião em particular, dedicava o espetáculo à sua mãe, recém-recuperada
de um câncer. Como não ficar encantado diante disso tudo?
O mais me seduziu na peça foi o impressionante dinamismo dos
atores, que, exceto pelo casal protagonista, revezam-se em diversos papéis.
Trocavam de roupa, de máscaras e de vivificações com uma velocidade
impressionante, num cenário aparentemente simples, que continha apenas um
enorme caixa de madeira, mas que foi aproveitado de maneira quase circense,
propiciando malabarismos, a entrada em cena de um dos atores sobre
pernas-de-pau, engolidores de fogo e intervenções inusitadas de improvisação
textual humorística. No palco, inclusive, havia também um músico muito bonito
que, junto ao espirituoso Zé Guilherme, mestre-de-cerimônias mais velho (e
excelente), que eu pensava ser o diretor do espetáculo (função, na verdade,
desempenhada por Christina Streva), executava os graciosos temas da peça, até então
a minha favorita deste festival.
Além de ser muito boa em encenação, interpretação, entrega completa
dos atores à efusão de seus personagens, iluminação sutil porém precisa e
direção impecável, eu e um dos meus amigos inebriamo-nos adicionalmente pela
beleza física dos atores, com destaque para o protagonista masculino Winston
Aquiles. Ah, quem nos dera abraçá-lo ao final da peça...
Wesley Pereira de Castro.
3 comentários:
amei de paixão! lindos de viver! valeu por ter colocado os nomes! rsrsrsrs :)
Pois é: fiz de propósito, Américo. Pode pesquisar! kkkk
WPC>
gostei muito e muito mesmo, a tempos não via um boa comédia no teatro, a tempos não via nada que valia a pena!
Lindos eles de fato!
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