domingo, 26 de fevereiro de 2012

UM LAMPEJO DE EMOÇÃO SOÇOBRADA NO FILME FINAL DA SAGA DE HARRY POTTER...

Dediquei boa parte do dia de ontem a assistir alguns filmes indicados ao Oscar deste ano. “Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2” (2011, de David Yates) está indicado aos prêmios de Melhor Direção de Arte, Melhor Maquiagem e Melhores Efeitos Visuais. Oficialmente, são prêmios menores, mas como muitos críticos lamentaram que este filme partido em sua gênese produtiva não estivesse indicado em categorias principais e como o livro do qual ele foi derivado foi o único da J.K. Rowling que li, achei válido incluí-lo em minha maratona de ontem. Não me arrependi: apesar de o filme ser decepcionante em mais de um sentido – em relação à transcrição dos eventos do livro, inclusive – é um filme bem melhor do que nossos preconceitos sobre a franquia indicavam. Não muito bom, mas minimamente digno e honesto em suas pretensões narrativas. Merece ser indicado a outrem, portanto.

Não consigo mensurar aqui a necessidade de resumir minhas impressões sobre os filmes anteriores da cinessérie ou sobre a trama em si, mas isto já foi feito aqui e aqui. Assim sendo, concentrar-me-ei no aspecto desta segunda metade deste último filme que mais me chamou a atenção: a morte benévola do pseudovilão Severus Snape (magnificamente interpretado por Alan Rickman). Desde o primeiro filme, nutri por este personagem uma grande simpatia: identifiquei-me com sua retidão docente, com sua firmeza disciplinar, com seus olhares de afetação ressentida. Para além da sua extraordinária composição actancial, pressenti que ali tinha algo a ver comigo, algo que me emocionaria num viés íntimo. Dito e feito: numa das cenas-chave deste filme, Severus é morto pelo arquiinimigo de Harry Potter, o demoníaco bruxo Voldemort (Ralph Fiennes) e, enquanto agonizava, chorava, de modo que o adolescente recolhe as suas lágrimas e depois as converte em lembranças, graças a uma máquina que compartilha pensamentos alheios. Penetrando nas motivações íntimas do personagem, o superestimado protagonista Harry Potter descobre que ele fingia ser mau por sugestão de um influente personagem e que ele sempre fora apaixonado pela mãe do bruxo com cicatriz em forma de raio na testa. Mais: ele sacrificou-se por ela em mais de uma situação, sendo obrigado a viver sob uma máscara de crueldade espúria a maior parte do tempo. Ainda mais: o filme podou isso em relação ao livro, mas ele fora vilipendiado e maltratado pelo pai de Harry Potter em mais de uma situação. Ele foi um incompreendido como eu, um daqueles que amam, por mais desautorizado que este sentimento seja, no contexto competitivo atualmente traçado para o amor relacional entre os indivíduos. Poderia falar mais sobre isso, mas a imagem é auto-evidente, além de eu estar atrasado para a continuidade comunal de minha maratona do Oscar. Mas insisto em repetir o que disse antes: a cena da morte deste personagem, apesar de muito sucinta no filme, é emocionante!

Duas conclusões gerais: 1 – a direção de David Yates é muito boa e, por incrível que pareça, politicamente comprometida no plano conceitual. Creio que ele merecerá bastante destaque elogioso quando dirigir algo que não esteja relacionado a estes personagens; e 2 – concordei deveras com o jargão lançado por Dumbledore (Michael Gambon) quando Harry Potter pergunta qual é a maior magia de todas. Ele responde: “a maior magia é a palavra, que pode causar os maiores problemas do mundo e, ao mesmo tempo, remediá-los. Depois eu explico o porquê de estar trazendo isso à tona agora...

Wesley PC>

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