“A vida que me ensinaram como uma vida normal
Tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal
Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso
Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso”
Eu costumo ser despertado por dois tipos recorrentes de pesadelos eróticos: no primeiro tipo, algo que eu
nunca tive, mas que desejo deveras, manifesta-se diante de mim como algo possível, mas, na hora H, sou interrompido por alguma contingência externa e acordo insatisfeito, no plano hermenêutico da frustração elaborada; no segundo tipo, algo que eu
já tive, penso ter ou talvez ainda tenha manifesta-se, diante de mim, de forma cruelmente fugidia, evidenciando que sem essa coisa (leia-se; “
algo atrelado a alguém que gosto muito”) pode desaparecer definitivamente a qualquer instante – de propósito, inclusive – e me fazer sofrer. Aí eu acordo preocupado, temeroso, tendente à impotência, mas ciente de posso e devo estrebuchar. Eu pensava que o primeiro tipo de pesadelo era pior, mas o segundo é mais severo, muito mais tátil em sua implantação de temores. E hoje eu tive um pesadelo do segundo tipo. E me percebi ouvindo uma mesma canção do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens quando despertei:
“Agora você vai embora
E eu não sei o que fazer
Ninguém me explicou na escola
Ninguém vai me responder”
Incrível como este refrão me atingiu em cheio! Ainda não li o romance flaubertiano que inspirou o belo título desta canção, mas sinto que esta é uma tarefa literária a que eu devo me deter muito em breve. Afinal de contas, muito mais do que temores ou frustrações, o que os sonhos nos legam são advertências. E talvez eu não seja tão bobo a ponto de deixar de ouvi-las. Mesmo que eu quisesse, não conseguiria: os meus pesadelos berram! Se eles tivessem a voz macia da Paula Toller, talvez não fossem tão efetivos. Outro dia, eu falo sobre as demais canções deste disco, portanto. Por ora, eu canto a mesma faixa, a mesma faixa, a mesma faixa:
“Eu sei a hora do mundo inteiro, mas não sei quando parar
É tanto medo de sofrimento que eu sofro só de pensar
A quem eu devo perguntar, aonde eu vou procurar?
Um livro onde aprender a você não me deixar”...
Ai, ai...
Wesley PC>
Um comentário:
eu tenho um certo probleminha com o Kid Abelha, mas admito que a música é bonita, e eu devo ser bobo pois não ligo pros senhos nem pesadelos, já basta o cotidiano me ensinando violentamente a sobreviver!
J.
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