quarta-feira, 24 de agosto de 2011

ATESTO, PARA OS DEVIDOS FINS, QUE FOI CASUALMENTE ASSIM QUE ACONTECEU:

O cinema kieslowskiano é marcado pela constância do acaso. Não um acaso casual, entretanto, mas uma acaso determinante, um acaso condicionado justamente pelas escolhas causais do indivíduo. Porém, se este acaso é facilmente detectado nos filmes derradeiros do cineasta, nos filmes mais acentuadamente comunistas da fase inicial de sua carreira na Polônia, este acaso compete com o determinismo estatal. “O Bonde” (1966), primeiríssimo curta-metragem do diretor, que, somente nesta terça-feira à noite, tive o orgulho de ver, escancararia o tal acaso determinante na cêpa: um rapaz entedia-se numa festa. Sai, bastante chateado, e sobe num bonde. Depara-se com uma moça linda, alheia aos seus desejos. Ele desce. Ela permanece no bonde, que realiza um trajeto circular e depois some da vista do rapaz. Era o que me bastava: belíssimo filme!

Era exatamente o que eu precisava, por acaso e não por coincidência. Saí do trabalho mais tarde que o habitual, por causa do sobejo de pessoas para atender. Talvez eu adie em mais um dia o consumo do sorvete de flocos que eu supliquei para que um casal de amigos me comprasse no último domingo. Sinto uma leve cefaléia, decorrente de um sono latente que insiste em me dominar. Estou com caspa na cabeça e, pelo visto, também nas sobrancelhas. Avisei a um colega de trabalho que o advertiria se eu conseguisse êxito na obtenção de sêmen alheio. E um calção cinza quedou sujo quando eu fechei a porta da casa de quem hesitava em fechar os olhos diante de mim, a fim de não deixar tão evidente que gozava. Uma sensação típica do que Krzysztof Kieslowski costuma me causar, diga-se de passagem. É o acaso...

Wesley PC>

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