sábado, 8 de janeiro de 2011

MILITÂNCIA HOMOSSEXUAL E MOVIMENTOS SOCIAIS – O CASO DA ASTRA (SIGLA PARA DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA GLBT) EM SERGIPE

O mais interessante da proposta inicial deste ‘blog’ coletivo é que qualquer assunto cabe em seu escopo e, neste sentido, gostaria sobremaneira de aproveitar o ensejo aniversariante para externar um de meus maiores conflitos acadêmicos, quando um professor concedeu-me a noite mais baixa do período (7,3) por eu tomar como pessoal um assunto que deveria ser focado de forma objetiva. Não creio nesta tal de objetividade e, como tal, pouco me lixei pela tal nota, visto que concordei com o que eu mesmo redigi no tal artigo científico intitulado como esta postagem. Em razão da larga extensão do mesmo, reproduzo aqui apenas o seu capítulo final, referente às tais das conclusões prototípicas, mas é mais ou menos assim que eu entendo a questão. Posicionamentos dialogísticos contrários são bem-vindos, OK?

Seja como for que se posicione acerca da questão homossexual, a luta contra o preconceito e em prol da igualdade de direitos não pode ser travada numa concepção unidirecional. Primeiro, porque a própria noção de “identidade homossexual” perpassa questões conceituais mui complexas, que torna mais do que imprescindível uma abordagem interdisciplinar entre várias proposições teoréticas aparentemente divergentes, mas que soam complementares em seus objetivos aplicativos. Segundo, porque a noção de “igualdade de direitos” não encontra amparo sequer entre as camadas heterossexuais da população, visto que uma configuração reivindicativa de classe sempre permite que se perceba uma nova sub-reivindicação de classe, tamanha a complexidade de questões relacionadas à inserção do homem no meio social que o circunda. Terceiro, porque as lutas homossexuais não agem isoladamente, mas sim atreladas a outras lutas, seja contra o machismo sustentacular de posicionamentos tacanhos de enfrentamento opinativo, seja contra o autoritarismo político que eventualmente se manifesta nas constituições nacionais, seja contra um reducionismo genérico que não mais abrange a totalidade de sub-classificações sexualistas, conforme a ampliação e/ou modificação constante que a sigla LGBT e congêneres vêm sofrendo ao longo dos anos.

Como agravante adicional, há que se destacar que, nas sociedades em que se desenvolveram as primeiras manifestações de enfrentamento contra a hostilidade direcionada aos homossexuais, aqueles que se assumiram publicamente posteriormente se envergonharam, “não tanto em razão de obstáculos precisos (família, patrões, polícia), mas devido ao fato de que, na sociedade capitalista, o homossexual é naturalmente vergonhoso” (HOCQUENGUEM, 1980: 37 – grifo do autor).
Em outras palavras: os arranjos sociais e “populares” que perpassam as questões reivindicativas modificam estruturalmente as concepções amplificadas que vinham se tendo acerca dos papéis sociais que os indivíduos desempenham ou são ensinados ideologicamente a desempenhar desde que se submetem, não de todo voluntariamente, aos aparelhos ideológicos de estado (família, igreja e escola, à frente) com que se deparam desde a infância, de maneira que o debate intensificado acerca destas questões “coloca a homossexualidade, acima de tudo, como um fato social. E, como tal, é palco das mesmas disputas, paradoxos, contradições e transformações que caracterizam a sociedade como um todo” (FRY & MACRAE, 1986; 120 – grifo dos autores).

É sabido que os estereótipos culturais adéquam-se às mudanças comportamentais próprias de cada era e, como tais, estes são necessários à manutenção defensiva de uma divisão ideológica de papéis sociais entre os indivíduos, o que explica a flexibilidade das fórmulas chistosas que, à sorrelfa, obtêm êxito na legitimação da ideologia pretendida, o que leva a concluir que “o desafio da sociedade é conseguir estereótipos que sejam fortes o bastante para proporcionar cooperação, mas flexíveis o suficiente para permitir o desenvolvimento individual” (TUCKER & MONEY, 1981: 13). É neste sentido que os militantes homossexuais, assim como outras minorias que se sintam “atingidas” negativamente pelos detentores do poder, devem manter seu senso crítico em constante reavaliação autocrítica, sendo bastante cuidadosos para não caírem nas armadilhas da satisfação imediata (ou melhor, imediatista) de suas exigências primárias e ignorando que o patriarcalismo capitalista, em sua forma mais deletéria de dominação histórica, é o que deve ser combatido, acima de tudo, enquanto esforço conjunto de todos os cidadãos que se sintam inferiorizados ou injustiçados por quaisquer que sejam as suas razões.

Transferindo estas questões para a organização não-governamental que fora estudada neste artigo cientifico, ressalta-se que, para além de discrepâncias discursivas da ASTRA (leia-se: rendição efusiva a comemorações tendenciosamente mercadológicas e/ou disfuncionalmente estereotipadas, como as dublagens de músicas ‘pop’ que a presidenta Thatiane Araujo engendra numa conhecida boate ‘gay aracajuana), no plano organizacional-midiático, a instituição peca por uma displicente preocupação estrutural com recursos administrativos essenciais como organogramas, envios de correspondências eletrônicas, clipagem e comunicação interna entre os seus colaboradores. Mas, ainda assim, ela deve ser laureada por sua significativa insistência acerca da visibilidade homossexual, pedra de toque fundamental das manifestações homossexuais hodiernas, que apregoam o seguinte jargão: nós estamos em todos os lugares”. Sergipe, incluído!

No aguardo,

Wesley PC>

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