domingo, 27 de fevereiro de 2011

‘NEW BORN PORN’ (E TUDO DE BRABO A ELE RELACIONADO)

No filme que vi ontem à tarde, havia uma seqüência em que um ator pornô aposentado assistia a um filme, ao lado do seu contratador: na tela, um homem musculoso auxiliava uma mulher em trabalho de parto. Nem bem a criança é expelida de sua vagina, ele abaixa as suas calças e fode a criança ali mesmo, enfia o pênis na genitália minúscula da criança, que, obviamente, chorava de dor. Empolgado, o diretor intradiegético desta seqüência comemorava o efeito de choque que ela causou em seu companheiro de sessão (e a qualquer um que estivesse vendo o filme naquele momento): “este é o pornô recém-nascido!”, gritava ele. Eu e meu amigo Jadson quedávamos estupefatos diante do que víamos. Tratava-se do filme sérvio “Um Filme Sérvio” (2010, de Srdjan Spasojevic) e, pior do que o filme em si, é saber que há um amplo mercado consumidor para este tipo de atrocidade. Ao final da sessão, precisei de pelo menos meia-hora para voltar à realidade: em que mundo estamos, meu Deus?!

Fiquei imaginando comigo mesmo o que eu acharia do mesmo filme se ele fosse bem-realizado, se ele fosse menos disfarçadamente conservador do que se demonstra. Será que eu correria o risco de ser hipnotizado por este apelo à barbaridade? Será que minha abjeção erótica chega a este nível de concordância? Será que eu me excitaria diante de um ‘snuff movie’? Prefiro não responder obviamente com NÃO s sinceros e, ao invés disso, evitar terminantemente a retroalimentação de um mercado tão pavoroso de demandas desumanizadoras. Juro que fiquei com medo do filme, não apenas pela crueza da cena descrita (que, afinal de contas, é mais espalhafatosa do que aterradora), mas com a conjunção de fatores propagandísticos que me levaram a ver este filme ao lado de Jadson, que é bem mais impressionável e irritável do que eu em relação a filmes de má qualidade. E, definitivamente, “Um Filme Sérvio” é um mau filme em sua própria essência. Definitivamente, Srdjan Spasojevic não merece o fervor artístico de uma genialidade malévola que eu concedo a artistas reativos como Kurt Kren, Jörg Buttgereit, Pascal Laugier ou até mesmo o jovem Kim Chapiron. “Um Filme Sérvio” é decepcionante e vilanaz por dentro e por fora. Grrrrr!

Wesley PC>

4 comentários:

André Teixeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
André Teixeira disse...

Mesmo tu explicitando o asco pelo, digamos 'sentido' do filme, quero ver. Fiquei essa meia hora que ficaste para voltar à realidade com o 'Jardineiro fiel'. Ainda que seus tons minimizados pelo filtro da cine-indústria, trata de algo que sabemos existir lá e aqui. Mas não vemos. Esses não são filmes para se ver acompanhado. Agora, por pior que pareça-seja a ficção, a nossa realidade é por vezes MAIS violenta, em quaisquer sentidos, deixando a ficção com ares de 'contos da carochinha'. Quantas crianças são estupradas ALÉM do físico, diariamente? Quantos recém-nascidos e suas mães são violados pela intumescência burocrática do poder(?ou phoder?)público(???) e tratados pela mídia como números. Se, ao invés, a mídia tratasse cada um desses infelizes seres como fazem com as 'Winehouse's' da vez. Cadê chamada ao vivo da Terra Dura com o menor J.C. morrendo de fome? Ou de doença? Ou de... . GRANDE abraço e parabéns pelo post! AT

André Teixeira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luiz Santiago (Plano Crítico) disse...

Muitíssimo bem dito! E concordo com a visão de que a cena é mais espalhafatosa que aterradora. Odiei o filme. É demais o grau de apelação gratuita. Aff...