quarta-feira, 6 de maio de 2009

CONSIDERAÇÕES SOBRE O PAPEL DO TRAFICANTE (OU DO MEDIADOR ATARÁXICO)


“I'm waiting for my man
Twenty-six dollars in my hand
Up to Lexington, 125
Feel sick and dirty, more dead than alive
I'm waiting for my man
(…)
Here he comes, he's all dressed in black
PR shoes and a big straw hat
He's never early, he's always late
First thing you learn is you always gotta wait
I'm waiting for my man”

Assim canta o The Velvet Underground, revelando um sentimento comum àqueles que precisam esperar um mediador (vulgo traficante) para lhes conceder substâncias que os levem a um estado alterado (e eventualmente consolador) de consciência. Sou um destes, um destes que se submetem às idiossincrasias que beiram a crueldade destes seres. Um dia, ao conversar com um amigo que exerce a função importante de homossexual ativo (não comigo, diga-se de passagem), ele me disse que “quem come tem que ser bruto mesmo, senão quem dá, monta!”. Esta talvez seja a explicação para entender o comportamento potencialmente iracundo e/ou indiferente dos traficantes convencionais e a conseqüente submissão dos dependentes aos seus caprichos. Repito: sou um destes! Dependo de quem está pouco se lixando para as minhas preocupações no que diz respeito à dependência de estados (artificiais) de espírito.

Tudo isso me traz à tona o melhor e mais genial filme a abordar o tema das drogas (ao menos no plano discursivo-crítico): “Sem Destino” (1969, de Dennis Hopper). Na primeira cena, vemos os personagens conversarem com fornecedores de alucinógenos, enquanto o grupo de ‘rock’ Steppenwolf desenrola a letra cruel e realista da canção “The Pusher”, logo substituída na trilha sonora por “Born to Be Wild”, interpretada pelo mesmo grupo. Diz a letra de “The Pusher”:

“Você sabe, o usuário, o usuário é um homem com a erva amada em suas mãos
Ah, mas o traficante é um monstro
Bom Deus, ele não é um homem natural
O traficante, por uns trocados, Deus, vai te vender vários bons sonhos
Ah, mas o traficante arruina seu corpo. Deus, ele vai levar a sua mente a gritar”

E de quem é a culpa? Nossa, que admitimos que precisamos dele e vemos esta crueldade assistencial ser alimentada voluntariamente ao longo dos meses? No meu caso, sim! Espero, portanto, que meu destino não seja o mesmo dos dois motoqueiros que protagonizam a obra-prima rebelde citada, filme que, por mais que tenha a a aparencia de apologético é, na verdade, um brilhante exercício de expiação. Preciso revê-lo com urgência!

Wesley PC>

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