segunda-feira, 1 de julho de 2013

O QUE (NÃO) É POLÍTICA!

Tive o azar de estar passeando pelas ruas da cidade de Aracaju enquanto Brasil e Espanha se enfrentavam na partida de futebol final da Copa das Confederações. Os bares estavam cheios, as pessoas gritavam e exultavam sempre que o Brasil fazia um gol (ao final, foram três!). Para a minha extrema sorte, entretanto, estava muito bem-acompanhado e pude observar com distanciamentos as reações entreguistas de pessoas que, até algumas horas antes, condenavam as comemorações futebolísticas como nocivas ao processo de despertar político hodierno do "gigante brasileiro" (sic).

 Dormi tarde e, ao despertar, ainda grogue, dispus-me a ver o genial "Edu, Coração de Ouro" (1967, de Domingos de Oliveira), que aproveita elenco e equipe do anteriormente soberbo "Todas as Mulheres do Mundo" (1966). A abordagem deste filme mais recente é bem diferente: se, no filme anterior, os dilemas neo-monogâmicos do protagonista é que são relevantes, no filme de 1967 a própria constituição do protagonista como alguém que tenta evitar os dilemas é o que o torna mais genial. Paulo José está soberbo como Eduardo, aliás. Um 'bon vivant' para quem levantar da cama é o grande desafio diuturno. Segue em festas, conversações com transeuntes, paqueras, colóquios com amigos poetas, namoros, seduções (e reclamações) de empregadas domésticas, etc.. Em dado momento, ele inteligentemente pronuncia: "todo lugar é centro porque as coisas perderam os seus lados. Eu também perdi os meus lados. (...) Onde fica a esquerda? (...) O amor não é possível nem necessário". E, oh, como eu me identifiquei com isso! Quando ele conhece a maravilhosa personagem de Leila Diniz, que dorme com quem quer ou com quem a queira, e grita "viva o amor!", eu me arreganhei de contentamento: algo de mim está naquele filme!

Disfarçado de filme contente, sobre as aventuras festivas de um típico 'playboy' carioca, o filme, na verdade, traz a atmosfera nouvellevagueana para o panorama praiano do Cinema Novo e, sutilmente, cutuca a política repressora da época, vide o "Epílogo" no qual há o suicídio de um amigo artista do protagonista, e o "Epílogo do Epílogo", no qual  se escreve na tela: "se custa muito com a vida ter um compromisso, também custa muito não ter nada a ver com isso". Mais claro impossível, não é?

Imaginei diversos interlocutores ideais para a discussão dos apotegmas e atitudes discursivas deste filme, maravilhosamente fotografado por Dib Lutfi e Mário Carneiro, mas o ideal seria revê-lo em grupo. Quem sabe eu não consiga fazer isso muito em breve? Por ora, sinto-me bem mais tranqüilo para rejeitar publicamente as manifestações imbecilizadas e predominantemente numéricas que ainda continuam a ser despejadas por Aracaju (e no Brasil como um todo, dando a tônica midiática a ser perseguida): não quero me envolver com isto, nem reativamente. O filme do Domingos de Oliveira explica bem o porquê. E o amor é mais que importante, porra!

Wesley PC>

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