Assim o narrador de “Alegrias a Granel” (1949, de Alexander
Mackendrick) se refere ao desfecho do filme, em que os habitantes de uma
pequena ilha tornam-se “infelizes para sempre” por causa do aumento exorbitante
no preço do uísque, exceto por um casal apaixonado, que não consumia a referida
bebida (risos). Na verdade, tudo isso era um brilhante jogo de inversão moral,
cunhado para justificar o senso de humor apurado da trama de Compton Mackenzie que
serviu de inspiração para o roteiro, co-adaptado por este mesmo escritor...
No filme, sua instância narrativa adianta que os habitantes
da ilha de Todday dedicam a maior parte de seu tempo aos prazeres simples, de
modo que dezenas de crianças correm felizes pelas ruelas... De repente, um fato
instaura a tensão: acaba o uísque local! Coincidentemente, um navio bélico que transportava
toneladas de caixas desta bebida naufraga perto da ilha. Os habitantes
esforçar-se-ão para obter o precioso líquido, mas, para isso, precisarão
esperar o jejum sabático, deveras respeitado pelos ilhéus. Tudo isso sendo
pretexto para que o diretor desvele os simples prazeres mencionados no início,
concernentes ao ato de beber entre amigos, de pedir em casamento quem se ama, de
se aventurar na persecução daquilo que se deseja enquanto afã comunitário...
Se, de um lado da tela, recebia mensagens calorosas (apesar
de seu pressuposto lamentoso) de meu melhor amigo, do outro, os técnicos do
filme apressaram-se em justificar os atos sociais bem-intencionados (ainda que
tendenciosamente delituosos) dos personagens, que se embebedavam mas eram
sinceros nas demonstrações de afeto de uns em relação aos outros. Meu moralismo
abstêmio se calou diante da genialidade das reviravoltas do roteiro – ou melhor,
sorriu altissonantemente: foi um dia contente, em suma!
Wesley PC>
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