terça-feira, 18 de outubro de 2011

“A FELICIDADE NÃO É ALGO DIVERTIDO”...

E, dentro deste processo vindouro de realização dos sonhos midiáticos, vi hoje “O Medo Devora a Alma” (1973), do cineasta Rainer Werner Fassbinder, que agora se tornou, finalmente, um dos meus favoritos. O filme em pauta, inclusive, talvez seja o meu favorito dele até agora. Lindo, romântico, realista e (melo)dramático do começo até o fim. Numa palavra: apaixonante!

Não obstante este ser o filme mais tramático do diretor – ou seja, aquele em que o entrecho por si mesmo é suficiente para garantir a sua genialidade estrutural – “O Medo Devora a Alma” é também uma obra em que a sua maior complexidade é justamente a simplicidade gritante de seu argumento. Nada poderia ser mais direto do que a vontade do diretor em contar a estória de uma viúva idosa que se apaixona por um marroquino tido como “não-pessoa” na sociedade alemã, mas as conseqüências imediatamente trágicas deste romance imprevisto revelam-se extraordinariamente no que tange à associação identificada com a negação do tipo de preconceito que assola homossexuais apaixonados, para ficar apenas num exemplo. Dizendo de outra forma: não bastou nem um minuto para que eu me visse completamente entregue a este filme. Já nos créditos iniciais, onde se lê o veredicto que intitula esta postagem, eu me via como personagem deste filme. E, por mais que minha alma hoje esteja menos devorada pelo medo do que antes, eu sabia sobre o que aqueles maravilhosos personagens estavam falando!

Numa das cenas mais singelas e magníficas deste filme, o imigrante marroquino diz à viúva que vai tomar um banho, enquanto ela lhe prepara um café, sua especialidade. Empolgada por servir o seu amado, ela abre a porta do banheiro em que ele se banhava, para avisar-lhe que o café estava servido. Dando de cara com a imagem nua (e humanamente deslumbrante) dele refletida no espelho, ela não consegue conter a exclamar: “tu és muito lindo, Ali!”. De chofre, minha vontade interna era exclamar o mesmo que ela. Impossível não se apaixonar por El Hedi ben Salem M'Barek Mohammed Mustapha durante ou após a sessão deste filme! E, se tudo der certo, ainda me deparo com o intérprete deste ótimo personagem marroquino noutro filme de seu amante Rainer Werner Fassbinder, que lhe dedicou o último filme, baseado em Jean Genet, depois que ele se enforcou na prisão... Só por isso, o defeituoso e esteticamente irrepreensível “Querelle” (1982) parece agora muito mais cheio de vida para mim!

Wesley PC>

Nenhum comentário: