quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O TÉDIO FALSO, O TÉDIO IMPOSTO...

Às vezes, a gente escolhe propositalmente o caminho errado a se seguir numa bifurcação... Como a escolha foi ostensivamente voluntária, arrepender-se não resolve muita coisa. Como é triste falar mal dos outros, mas, de vez em quando, é necessário. Será mesmo?

Tomemos o meu exemplo e falemos mal de mim: dentre tantas opções de divertimento disponíveis para a noite de ontem (havia um livro de Johan Wolfgang Goethe em cima da mesa, um filme clássico do Hal Ashby sendo exibido na TV, uma mãe carinhosa querendo conversar após a sua telenovela noturna, etc.), encasquetei de visitar um rapaz querido, com o qual perco francamente o contato à medida que ele envelhece e se embrenha cada vez mais nos prazeres dúbios do álcool e das novas companhias a ele atreladas. Como tenho plena ciência de que “amar é fazer concessões”, desdenhei provisoriamente do livro, do filme e do carinho materno e fui ver se conseguia uma ejaculação na rua. A duras penas!

Menos de meia-hora depois, estava agoniado para voltar para casa. No local em que eu estava, três programas desagradáveis se revezavam: na mesa, garrafas em tamanho máximo de cerveja, que eram servidas por uma mãe de família sarcástica no que tange ao modo como seus convidados ingeriam o referido líquido; no computador, imagens de uma rapariga nua ao lado do namorado, moradores do bairro em que habito, cujas fotos foram ilegalmente depositadas na Internet, fazendo com que um dos convidados tachasse-nos de “paus no cu”, “Zé ruela” e outras expressões chulas demeritórias só porque momentos de intimidade do casal foram pirateados por desvirtuadores masturbacionais mal-intencionados; e, finalmente, na TV, o famigerado “Programa do Ratinho”, uma das coisas mais abomináveis que podem ser realizadas em matéria de atração televisiva. Reservo um parágrafo à parte sobre a ojeriza que a audiência a este programa me causou:

Desorganizado de propósito, falsamente bagunçado, focado no que de pior seus convidados e entrevistados têm a oferecer, o tal “Programa do Ratinho” surpreendentemente fisgava a atenção dos convidados daquela sala. Inicialmente, porque os cantores sertanejos Milionário & José Rico, admirados pelo chefe da família que me acolhera, estavam no palco do ridículo apresentador Carlos Massa, mas, em seguida, porque o programa era popularesco, exacerbava os instintos mais vulgares dos indivíduos ali presentes, mostrando mulheres gordas completamente nuas e vilipendiadas, modelos famosas fingindo constrangimento ao confessarem suas novidades românticas e empregados técnicos fingindo raiva por serem zombados por causa da suposta homossexualidade sub-reptícia. Foi demais para mim: o nojo era extremo e indescritível! Não tanto pelo que via na TV, mas por ver aquilo causando efeitos naquelas pessoas que eu tanto gosto e que, num contexto tão semelhante, me levaram a escrever, noutros tempos, uma crônica tão elogiosa às benesses da exploração comercial da cultura popular... A culpa é minha, não é possível! Minha, minha e minha!

Wesley PC>

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