sábado, 3 de abril de 2010

SÁBADO DE ALELUIA!

Um dos momentos basilares de minha infância amorosa deu-se quando o garoto pelo qual eu era atraído na pré-adolescência mostrou-me uma redação escolar que escrevera, na qual relatava a conversão de um jovem loiro oprimido pelos homossexuais e negros do lugar em que morava a uma variação nordestina do Nazismo. O protagonista da historieta era, na verdade, um alter-ego do próprio garoto, loiro e desnecessariamente revoltado, mentiroso, malicioso, acima de tudo, humano e infantil, um menino de 13 anos que ainda conheceria muito da vida. No mesmo dia em que me mostrou esta redação, o garoto consentiu em filmar 40 segundos de seu pênis por R$ 10,00. Hoje, a fita VHS em que estava contida a gravação de seu pênis mofou, ele já ejaculou em minha garganta de graça e é pai de um filho com uma deficiência no átrio cardíaco. Conversamos de vez em quando, tenho sua esposa negra e muito bonita adicionada em meu Orkut e ele nem pensa mais nas bobagens proto-nazistas que escrevera na pré-adolescência. Entretanto, não consegui deixar de pensar nele enquanto via “O Jovem Hitlerista Quex” (1933, de Hans Steinhoff), quiçá o melhor filme produzido sobre a égide ministerial de Joseph Goebbels, na manhã de hoje. Pena que a proibição ostensiva sobre a difusão do filme, mesmo no século XXI, impede que o mesmo seja difundido em cópias cinematográficas latas, de maneira que tive que vê-lo numa cópia com comentário em russo sobre a dublagem alemã, legendado em inglês. Não terei como emprestar uma cópia a este marcante personagem de minha infância...

Para além deste pequeno inconveniente justificado sobre a difusão do filme (que é impressionante em suas inversões ideológicas), gostei muito do mesmo: não somente o diretor Hans Steinhoff é um artesão mui eficiente como o roteiro do filme foi deveras efetivo em mostrar a redenção do garotinho protagonista através de uma perspectiva mais ampla, em que primeiro ele é mostrado como um diligente rapazola espancado pelo rude pai socialista até ser acolhido e respeitado pelos sorridentes membros da Juventude Nazista. Minha mãe viu alguns trechos do filme ao meu lado e perguntou por que tanta gente corria atrás do garoto e eu tive que responder nos moldes ideológicos pretendidos pelo roteiro: “porque os comunistas são maus, Rosane, e querem maltratar o coitado do menino só porque ele é um defensor de sua Pátria”. O fiz de propósito. Hoje em dia, o discurso não funciona mais como na época em que fora filmado e difundido, mas a qualidade sobressalente do filme deixa-nos de sobreaviso: beleza é algo ilusório e perigoso quando regida por espíritos mal-intencionados!

Terminado o filme (belíssimo, belíssimo!), pus um CD do Padre Zezinho para ser executado e lembrei que tive que interromper uma transmissão teatral da Paixão de Cristo que minha mãe via na TV aberta. A cena que estava em voga era justamente uma das minhas favoritas na Bíblia, a que talvez eu mais me identifique: o suicídio de Judas Iscariotes. O mesmo Judas que é queimado figurativamente ano após ano no Sábado de Aleluia. A mesma Igreja que defende o arrependimento como passo supremo para o Perdão de Deus (e ninguém duvida que Judas Iscariotes arrependeu-se de fato!) estimula este ato metonímico de vingança, esta expiação forçada e alopática por crimes e pecados que os próprios ateadores de fogo relutam em assumir. “Judas traiu Jesus com um beijo. Ele merece morrer!”: eis a resposta mais ouvida quando eu pergunto o que os católicos acham do enforcamento representado na TV. O que fazer, meu Deus, o quê?

“Uns're Fahne flattert uns voran.
In die Zukunft ziehen wir Mann für Mann
Wir marschieren für Hitler
Durch Nacht und durch Not
Mit der Fahne der Jugend
Für Freiheit und Brot.
Uns're Fahne flattert uns voran,
Uns're Fahne ist die neue Zeit.
Und die Fahne führt uns in die Ewigkeit!
Ja die Fahne ist mehr als der Tod!”

Wesley PC>

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