sábado, 21 de novembro de 2009

HOJE EM DIA É ASSIM!


Não era surpresa que eu fosse gostar e recomendar “Se Beber, Não Case” (2009, de Todd Phillips). Conhecendo os antecedentes do diretor e a filiação cômica subgenérica à qual ele está atrelado, era esperado que eu risse bastante durante a sessão e, para além disso, considerasse o filme um poderoso retrato da geração atual. Se isto é uma apologia ao comportamento dos personagens? Não, não é. Mas que tem tudo a ver com o que eu ando presenciando por aí, a favor ou contra a minha vontade, ah, tem!

Comecemos por um exemplo pessoal: na quinta-feira, aparece um estudante de Direito em meu local de trabalho, daqueles que bastam 3 segundos de contemplação silenciosa para ficarmos hipnotizados com sua beleza juvenil. Ele perguntou o que fazia para conseguir um documento com a sua Média Geral Ponderada e eu respondi que bastava ele pagar uma taxa de R$ 3,00 para que eu o entregasse um Histórico Escolar assinado e carimbado. Ele olhou para mim, grunhiu um pouco e gritou (repito, gritou): “Três Reais pela pôrra de um Histórico? É foda!”. Detalhe: o garoto deve ser filho de uma família sergipana bastante influente (tanto é que há uma providencial duplicação da letra T em seu sobrenome) e, com certeza, a quantia necessária pela obtenção do documento lhe era irrelevante. Ainda assim, ele fez um escândalo. O quarto segundo, portanto, é suficiente para que nos desinteressemos por ele. Pena que o quinto, o sexto, o sétimo... etc., nos façam incorrer no vício (risos).

O exemplo parece fútil (e é), mas tem uma intenção: mostrar o preço que pagamos por nutrir simpatia pelos protagonistas do (quase) ótimo filme resenhado, jovens recém-formados, estabilizados romanticamente, que resolvem comparecer a uma despedida de solteiro em Las Vegas, em homenagem à amizade baderneira que os une. Na primeira manhã consecutiva à noite em que se hospedam num caríssimo hotel, eles acordam num quarto repleto de galinhas, com um tigre no banheiro. Um deles, o dentista, está com um dente frontal ausente. Outro deles, o noivo, desapareceu. As confusões que se seguirão a partir daí não cabem aqui, mas, advirto, são hilárias. Em outras palavras: o roteiro do filme é muito bom e muitíssimo engraçado e as situações que ele aborda são incrivelmente verossímeis, mas... Não estamos sendo coniventes com um elogio à inconseqüência elogiando este tipo de filme? Repito que, na pior das hipóteses, o filme é genial em seu retrato de época, a ponto de eu não me sentir nada herético ao dizer que, dadas as eventuais diferenças autorais, ele é uma releitura contemporânea de clássicos masculinos como “Os Maridos” (1970, de John Cassavetes), “Jogando com a Sorte” (1974, de Robert Altman) ou “Meus Caros Amigos” (1975, de Mario Monicelli). Logo, insisto: é um filme do caralho!

Na madrugada de ontem para hoje, em Gomorra, conversei com meus amigos sobre a minha petulância em criticar alguns atos irresponsáveis deles, que, por sua vez, são atos que fazem com que eu goste deles cada vez mais. O filme me deu um tapa na cara, neste sentido: pessoas não precisam se comportar da mesma forma nem seguir as mesmas leis ou pretextos religiosos para se amarem. Isso é bom!

Wesley PC>

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