sexta-feira, 27 de junho de 2014

O LIVRO QUE LEIO, O(S) SONHO(S) QUE TENHO...

Anteontem, emprestaram-me um livro curto, “Noturno do Chile” (2000), de um autor que e sempre quis conhecer, o chileno Roberto Bolaño, falecido em 2003, por conta de insuficiência hepática. O livro é curto, apenas 118 páginas, apenas um parágrafo. É uma confissão, pouco antes da morte, de um padre que colaborou com a ditadura pinochetiana. Amante da literatura e pretensamente “liberal”, tudo indica que este pároco é um homossexual reprimido. Li mais da metade de um livro de uma sentada só. É para ser assim mesmo: o fluxo de pensamento exige!

Fiz outras coisas ao longo do dia e, ao dormir, um sonho que me deixou impressionado: estávamos eu e um amigo que conheço há pouco mais de um ano em Brasília. Estudávamos ambos na UnB: eu, Jornalismo; ele, Medicina. A área da universidade era enorme e lembrava bastante os terrenos de um bairro aracajuano, onde vivia uma grande amiga minha. No intervalo de uma das minhas aulas, passeio pela região e encontro uma banca de revistas usadas, prestes a encerrar as suas atividades. “Ninguém mais compra estas revistas”, reclamava a vendedora a um reciclador de papel, que estava carregando o seu carrinho de mão com as revistas, que seriam deterioradas. Encontrei na bagunça uma Showbizz antiga, com uma matéria de capa sobre a banda alternativa norte-americana Primus, favorita do amigo com quem eu sonhava. Matéria de capa: “música e atitude”. Não tinha um centavo no bolso, de modo que pedi que a vendedora guardasse a revista, enquanto eu ia a um caixa eletrônico retirar o dinheiro. Volto com dez Reais no bolso, quando me deparo com o amigo em pauta trocando o pneu de sua bicicleta. Conto-lhe a novidade e ele vai comigo, a pé, até a banca de revistas. Antes, deparamo-nos com dois trombadinhas com quem ele havia brigado na semana anterior. Os meninos pareciam agressivos: ambos eram negros, barrigudos, descamisados, violentos... Tinham menos de 10 anos, mas nos perseguiam com pedras. Corremos alvorocadamente e, de repente, meu amigo fere o seu pé. Pára subitamente. Precisei ajudá-lo, ampará-lo. Os garotos aproximavam-se mais e mais. A fim de proteger a mim e ao meu amigo, adentramos uma padaria que também funcionava como fábrica de salsichas. O proprietário era evangélico e nos concede abrigo. Peço-lhe que ligue para a Polícia (ou para o Juizado de Menores) quando eu consigo capturar um dos garotos meliantes pelo braço. Ele parecia chorar. Desperto.

Acordado, impressionado (eram 6h30’ da manhã!), envio SMS descrevendo o sonho a dois amigos: aquele com quem eu sonhara efetivamente; e outro que correspondia aos dados transferidos oniricamente, alguém que, de fato, estudara na UnB. Levanto-me, escovo os dentes e sento-me para ler mais alguns trechos do livro, enquanto minha mãe preparava o cuscuz. Página 78: “Os dias que se seguiram foram estranhos, era como se todos nós houvéssemos acordado de repente de um sonho para a vida real, embora por vezes a sensação fosse diametralmente oposta, como se de repente todos estivéssemos sonhando. Nosso dia-a-dia se desenrolava de acordo com esses parâmetros anormais: nos sonhos, tudo pode acontecer, e você aceita que tudo aconteça” (grifo do autor). Fiquei impressionado. Envio o trecho lido para os dois amigos mencionados e para o rapaz que me emprestou o livro, além de um garoto por quem me obsedo hodiernamente. Ouvi um pouco de música, comi algo, segui vivendo. A vida continua: estou acordado!

Nota: após a leitura, percebi que há um segundo parágrafo, a derradeira linha do livro, composta por apenas oito palavras, depois de uma longa reflexão sobre os descaminhos e contradições da política chilena. “E depois se desencadeia a tormenta de merda”, conclui o padre, antes de morrer. Sábia constatação!

Wesley PC>

Um comentário:

A. Everton Rocha disse...

Muito em breve vou publicar um romance. vou mandar pra você um exemplar.!!!