sexta-feira, 29 de junho de 2012

“AI, AI, MEU DEUS DO CÉU, QUANTO EU SOFRI AO VER A NATUREZA MORTA”!

Em dado momento da tarde de anteontem, solicitei a um ser humano tão idiossincrático quanto eu que me recomendasse algum disco que eu ainda não conhecesse. Sem titubear, ele recomendou que eu baixasse “Di Melo” (1975), disco de estréia de um pernambucano homônimo que foi o único lançado por ele. O detalhe interessante é que ele continua se apresentando em concertos até hoje e, pela qualidade e versatilidade demonstradas no disco, com certeza não faltaria bom material nem demanda auditiva caso ele quisesse gravar outros álbuns. O que teria justificado esses trinta e sete anos longe do mercado fonográfico por parte deste artista impressionantemente subestimado da música brasileira? Seja lá qual for a resposta, o fato é que o potente disco que ele lançou seis anos antes de meu nascimento tornou-se rapidamente um dos álbuns mais íntimos que ouvi este ano. Não apenas porque é ótimo, mas também porque se tornou uma conexão graciosa com o rapaz que mo recomendou: é incrível o quanto a magistral faixa de abertura, “Kilariô”, me faz lembrar a voz e o estilo graciosamente desengonçado de Rafael Maurício (risos):

 “Dei a mandioca pra farinha
 E o milho pra galinha 
E o capim para a vaquinha
 E o feijão quem compra gosta”... 

 Como costuma ser praxe quando aprecio bastante uma canção em detrimento das demais, repito tanto a faixa inicial deste disco que só o ouvi na íntegra apenas duas vezes. Não tenho muita propriedade analítica para analisar o teor valorativo de canções como “Se o Mundo Acabasse em Mel” (faixa 09) e “Indecisão” (faixa 12), visto que as ouvi pouco, apesar de ambas terem me agradado bastante, mas insisto que o disco é muito bom e que me surpreendeu bastante na divergência simbólica em relação ao ‘aspecto ‘blaxploitation’ da capa. O principal arranjador do mesmo, aliás, é o multiinstrumentista Hermeto Pascoal. Mas, sobre as faixas 02 e 03 posso me aventurar a falar algo mais, visto que ouvi cada uma delas pelo menos quatro vezes (risos): a primeira delas (“A Vida em Seus Métodos Pede Calma”), diverge do modo de falar de meu supracitado cicerone musical, não obstante a letra ter bastante a ver com seu modo de enfrentar o mundo (“Se existe desespero é contra a calma/ e, sem ter calma, nada você vai encontrar”); a segunda (“Aceito Tudo”), por sua vez, me fez lembrar dele novamente (“No dia que eu penetrar do outro lado da vida eu não volto mais”). Quase que eu o telefono há pouco, apenas para recitar estes versos, de tanto que eu os achei parecidos com ele (risos). Conclusão: tornei-me fã do disco!

 Tentei ouvir o disco mais uma vez enquanto escrevia esse texto, a fim de fundamentar a resenha e analisar as canções com mais propriedade, mas meu irmão desligou o rádio para assistir a um programa esportivo na TV. Entretanto, asseguro que voltarei a mencionar este jóia do Di Melo noutras postagens. Por ora, peço desculpas ao rapaz citado no texto pelo excessivo derramamento de elogios (vulgo: recaída), mas, depois de todas as agruras que enfrentei hoje (chinelas quebradas, entrada na universidade terminantemente negada por vigilantes que alegam apenas seguirem ordens, roupa ensopada por causa da chuva), a associação entre os méritos indubitáveis desse disco e os favores que ele prestou à minha existência tornou-se cabal. Muito obrigado pelo presente acústico, Rafael Maurício! 

Wesley PC> 

Nenhum comentário: