segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O GOZO TRISTE, TÍPICO DOS FILMES DE WALTER HUGO KHOURI, E EU...

Sempre fico ansioso quando descubro que algum filme do Walter Hugo Khouri será exibido na TV. Cineasta autoral por excelência, este genial artista tem como uma de suas marcas registradas mais evidentes a recorrência da masturbação feminina como elemento psicológico fortemente tramático. Entretanto, apesar de respeitar sobremaneira as suas personagens femininas, seus filmes costumam ser narrados pelo ponto de vista masculino, geralmente de alguém chamado Marcelo, subjetivamente angustiado e sexualmente excitado, ao mesmo tempo. Apesar de lentos, extremamente lentos e difíceis, seus filmes geralmente são ótimos e profundamente terapêuticos.

Na tarde de ontem, descobri que o clássico “As Deusas” (1972) seria exibido no Canal Brasil. Fiquei logo afobado: “tenho de ver este filme!” Dito e feito! Não é dos melhores do diretor, como eu previra, mas chama a atenção qualitativa em muitos aspectos positivos. É lento, triste, é psicanalítico e emula Ingmar Bergman e Michelangelo Antonioni, mas é, acima de tudo, assaz khouriano. O ponto de vista dominante aqui, porém, não é de um homem, muito menos chamado Marcelo, mas sim de uma mulher traumatizada e sofrida, deprimida até a alma, de nome Ângela, vivida pela diva actancial Lilian Lemmertz. Em longo tratamento psiquiátrico pela Dra. Ana (Kate Hansen), ela não demonstra sinais de melhora em sua depressão e, como tal, esta última responsabiliza-se pessoalmente pelo tratamento e resolve disponibilizar a sua casa de praia para que Ângela e seu marido Paulo (Mário Benvenutti) passem um tempo longe dos problemas habituais.

Na cena inicial do filme, Ângela lê um bilhete escrito por sua terapeuta. Na cena final, a amargura que ela (e o espectador, por extensão) sentia permanece intacta. Quiçá, ainda mais profunda, depois de tantas cenas de sexo infeliz, revezadas por Paulo entre sua esposa e a médica dela. A trilha sonora do filme está a cargo de Rogério Duprat e perturba-nos em mais de um sentido, sendo rigorosamente coadunada ao mal-estar existencial que aflige aquelas mulheres e aquele homem. Quanta dor, meu Deus, quanta angústia, quanto sentimento de vazio: impressionante o quanto este cineasta era corajoso, para filmar uma obra tão desafiadora quanto esta. E infeliz de quem se excitar durante a sessão... detalhe: eu me excitei deveras!

Wesley PC>

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