quarta-feira, 23 de outubro de 2013

“PEÇO DESCULPAS AOS SENHORES POR TEREM TESTEMUNHADO A CARNIFICINA DE HÁ POUCO, MAS ELA É NECESSÁRIA PARA O DESENROLAR DE NOSSA HISTÓRIA”...

Neste exato momento, eu estou escandalizado: não sou fã dos filmes d’Os Trapalhões, nem devoto do Ariano Suassuna e tenho problemas com a irregularidade (eventualmente convertida em versatilidade) do Roberto Farias. A combinação de todos estes elementos em “Os Trapalhões no Auto da Compadecida” (1987) me deixou chocado: não apenas gostei muito do filme como tive o privilégio de ver o quarteto interpretando de verdade, não apenas despejando piadas...

Tudo bem que Renato Aragão como o esperto João Grilo e Dedé Santana como o pabuloso Chicó apenas concebem variações de seus próprios personagens, mas o hilário Zacarias como um padeiro traído e Mussum vivificando Jesus Cristo me surpreenderam bastante!

Muitíssimo bem dirigido, este filme utiliza-se de uma narrativa teatral metalingüística para apresentar a sua trama, tornada conhecida do público brasileiro por causa do filme advindo de uma produção televisiva “O Auto da Compadecida” (2000, de Guel Arraes). Se eu já tinha restrições – ideológicas, principalmente – a este (tele)filme recente, depois de constatar o brilhantismo técnico e popularesco deste clássico injustiçado de Os Trapalhões, eu dou a minha mão à palmatória risória mais uma vez. Os diálogos envolvendo a cristandade – seja no que se refere à sua cor, “que não é das melhores, apesar de [ele] falar bem”, à propaganda kardecista vinculada ao sobejo de ressurreições e ao chiste sobre protestantismo vinculado ao minucioso conhecimento do Evangelho por conta do personagem, sacro. Como o próprio Ariano Suassuna foi co-autor do roteiro, ao lado do diretor Roberto Farias, é difícil saber o que já estava na peça original, o que adveio exclusivamente da versão cinematográfica e o que foi imposto pela sanha controladora exacerbada do grupo cômico (de Renato Aragão, sobretudo), mas que eu gargalhei em mais de uma seqüência, ah, eu gargalhei!

Por conta de uma necessidade tangencial de minha pesquisa sobre pornochanchadas, tentarei ver a integralidade dos filmes protagonizados pelo grupo até o final do ano, mas, desde já, confesso-me absoluta e positivamente chocado com o que estou a descobrir em filmes que eu rejeitei tanto tempo por pré-conceito. Não era uma filtragem espectatorial equivocada (defendo os meus motivos, preconceituosos inclusive), mas dou a cara a tapa neste exato instante: achei o filme espetacular, primoroso e, acima de tudo, muito inteligente e divertido!


Wesley PC> 

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