segunda-feira, 3 de junho de 2013

“A RODA DE TREM É IGUAL À GENTE: NA APARÊNCIA, PARECE QUE ESTÁ TUDO BEM. MAS POR DENTRO, ESTÁ TODA RACHADA...”

Não sei por que motivo o cantor e compositor Sérgio Ricardo (nascido João Lutfi, em 1932) não é citado nas enciclopédias sobre o cinema brasileiro como um diretor meritório: pensei que a sua inserção directiva no musical riponga “A Noite do Espantalho” (1974, que ainda não vi!), fosse uma experiência isolada, mas surpreendi-me nesta tarde de segunda-feira ao me deparar com uma ótima obra ficcional romântica de nome “Juliana do Amor Perdido” (1970), terceiro dos cinco longas-metragens que o diretor realizou, sendo um deles um filme em episódios. No roteiro deste, uma colaboração bem-sucedida com o neo-realista tupiniquim Roberto Santos. Na direção de fotografia, o trabalho premiado do irmão do diretor, Dib Lutfi.

 Oficialmente, eu perigava não conseguir assistir ao referido filme, visto que estava preocupado com um trabalho acadêmico pendente, mas não resisti ao chamariz: as imagens e sons iniciais do filme eram tão atraentes que eu mergulhei imediatamente aquela trama mágica sobre uma garota tratada como santa pelos pescadores da região em que vivia. Não me arrependi: o filme é maravilhoso, fazendo excelente uso das práticas ribeirinhas de candomblé.

 A protagonista é vivida pela bela ruiva Maria do Rosário, desejada por todos os homens que a circundam, inclusive o seu pai (Macedo Neto). Porém, ela se apaixona pelo maquinista de trem Faísca (Francisco di Franco), que a desvirgina e supostamente dirime a lenda de que ela está condenada a permanecer vaginalmente imaculada, a fim de impedir que uma maldição recaia sobre seu deflorador. Sua mãe, inclusive, fora assassinada pelo marido, visto que havia sido pega em flagrante de adultério. Juliana não teve a mesma sorte: é crucificada pela população que a venerava e, ao final, atropelada pelo veículo conduzido por seu amado. Na trilha sonora, as composições impressionantes do diretor. Como este filme pode ser tão desconhecido entre os amantes do cinema brasileiro? Maravilhoso, pura e simplesmente!

 Wesley PC>

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