Já conhecia o cineasta Patricio Guzmán por causa de sua
devoção incansável ao resgate da memória política chilena, a tudo aquilo que
foi suplantado pelo golpe de estado de 11 de setembro de 1973. Por mais que seu
documentário “Salvador Allende” (2004) tenha me incomodado um pouco no início
pelo tom hagiográfico e pela reutilização insistente de imagens de outros
filmes, a imersão cada vez maior do realizador em seu próprio percurso fílmico
descarregava emoção: ao final da sessão, eu estava em transe, agradecido por
ter amigos a quem eu pudesse destinar o encanto pela vida que me tomava de
assalto naquele instante...
Dentre as cenas que mais me impressionaram, todos aqueles
momentos de forte apoio popular, as perscrutações do cineasta nos locais que
foram atacados pelos militares (que se tornaram “um museu secreto, um recanto
de amnésia”) e a entrevista com um funcionário aposentado da companhia de inteligência
norte-americana que, quando perguntado acerca do que sentira quando soube que
Salvador Allende estava morto, respondeu cinicamente: “ele colheu aquilo que
plantou ao crer que a direita se suicidaria na alegria”. Incrível! Maravilhoso o
filme: emoção em estado bruto!
Wesley PC>
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