domingo, 8 de janeiro de 2012

AVENTANDO A POSSIBILIDADE DE EU SER CULPADO...

Há poucas horas, eu terminei de ver o mais recente filme do polêmico diretor Roman Polanski, “Carnage” (2011). Baseado numa peça teatral de Yasmina Reza, este filme tem seu roteiro focado numa situação tão básica quanto alegórica: um menino de 11 anos espanca um colega de escola quando este recusa que ele faça parte de sua gangue. A agressão física, que custa dois dentes e uma deformação provisória no rosto do agredido, gera controvérsia entre os pais de ambos os meninos, visto que, enquanto eles discutem quem é, de fato, culpado do incidente, não apenas os papéis de agressor e agredido invertem-se várias vezes como também nódoas mal-resolvidas em ambos os matrimônios vêm à tona. Alheios a tudo isso, os meninos (um deles, interpretado à distância pelo próprio filho do cineasta) fazem as pazes da mesma maneira inocente e espontânea como brigaram. Não é um grande filme – é até chato nalgumas passagens mais “doutrinárias” – mas é merecedor de discussão e comparações, seja com a vida pessoal do cineasta (recentemente aprisionado pela polícia suíça, por um crime cometido há mais de 30 anos), seja com os desmazelos da diplomacia internacional hodierna, seja com algumas pressuposições mal-resolvidas de meus conflitos íntimos...

Na última sexta-feira, meti-me numa discussão boba, através de mensagens de celular, com um rapaz por quem serei eternamente apaixonado. Eu havia convidado-o a ver um filme do Steven Spielberg comigo, relevante não apenas por sua qualidade estilística hollywoodiana intrínseca como também por sua urgência avaliativa em época de premiações técnico-cinematográficas. Depois de uma ansiosa semana de espera, às vésperas de minha fetichista comemoração de aniversário, ele impõe sobre mim o convite para um filme-franquia dispensável no momento atual, que me deixou frustrado e triste por algumas horas. Conclusão: quanto mais amamos uma pessoa, mas estamos sujeitos à depressão diante de qualquer ato inesperado, súbito ou dissonante em relação às nossas expectativas sôfregas diante do que ela faz. A culpa pode ser minha neste caso...

Confundindo perenemente alhos e bugalhos, arrisquei-me a ler o livro oportunista “O Diário de um Mago” (1987), de Paulo Coelho. Já estou na página 40 e adianto que desgostarei sobremaneira deste engodo subliterário disfarçado de livro de memórias. A quem eu pensava que atacaria ao submeter-me a este romance? À sarcástica exortação do cronista Ruy Castro, que tacha o escritor de católico vira-casaca viciado em “toques de canastronice, como conversar com o próprio coração”? Por precaução, enquanto estiver lendo este livro, impus a mim mesmo a restrição de não acessar o Facebook em meu computador doméstico. Preciso escrever o meu projeto de mestrado até o fim de semana que vem e ainda estou desorganizado em relação à delimitação de meu objeto de pesquisa. Se alguém perguntar, faz de conta que este é o verdadeiro motivo. Tudo pode ser um recomeço, para o bem e para o mal, o filme do Roman Polanski deixa isso bem claro!

Wesley PC>

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