Quanto mais se mergulha no cinema brasileiro, mais se
descobre que ainda se tem muito a descobrir: na tarde de hoje, por mero acaso,
fui apresentado a um trio de comediantes [formado por Mário Alimari (Feneguetti),
Sandrini (Mexilin) e Rony Cócegas (Maionese)] que, no final da década de 1970,
estrelou um programa cômico na TV Tupi que imitava descaradamente Os Três
Patetas estadunidenses.
Sem que eu sequer tivesse ouvido falar deles até o dia de
hoje, conheci um filme pretensamente infantil chamado “Os Pankekas e o
Calhambeque de Ouro” (1979, de António Moura Mattos), deveras assemelhado ao
estilo nonsense d’Os Trapalhões, no qual o trio troca uma galinha por um
calhambeque velho, que calha de ser o veículo do título, feito de ouro por um
assaltante de banco que, assim, tencionava ultrapassar as fronteiras do Estado
de São Paulo e fugir tanto da Polícia quanto de seu mafioso contratador, que
era justamente o presidente do banco onde estavam as barras de ouro que
serviram para a confecção do calhambeque. O roteiro de Emanoel Rodrigues,
entretanto, evita se prender à sinopse apresentada na ficha técnica do filme e
desperdiça as possibilidades de graça a partir da personificação do veículo,
que pisca os olhos/faróis e anda sozinho quando lhe convém. O início do filme é
muito divertido, mas, do meio para o final, apesar de sua curta duração (apenas
81 minutos), os resultados são desinteressantíssimos, principalmente por causa
do excesso de perseguições bobocas e aceleradas (uma delas, numa boate com
dançarinas e sheiks árabes; outra, num parque de diversões que se beneficia de
vantagens publicitárias) e do alavancamento de personagens policialescos
secundários, mas, não vou mentir: achei engraçada a insistência do personagem Maionese
em repetir o seu jargão “na manteiga!”.
Para além (ou aquém) dos muitos defeitos estruturais do
filme, conhecer o cinema brasileiro é sempre muito recompensante. Por isso,
tenho a plena certeza de que, antes de chegar ao final de meu Mestrado, Paulo
Emílio Salles Gomes e Jean-Claude Bernardet tornar-me-ão um homem mais intelectualmente
feliz do que eu sou agora...
Wesley PC>
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