quinta-feira, 2 de outubro de 2014

“PARA CONSEGUIRMOS TER CONTROLE TOTAL DA SITUAÇÃO, PRECISAMOS ESTAR SOZINHOS!”

Este era o lema do garotinho Reine (Tomas Fryk, impressionante em sua eloqüente precocidade), que, aos onze anos de idade, vistoria periodicamente a sua genitália, a fim de se certificar de que nenhum pêlo púbico apareceu na região compreendida por seu pênis e seu saco escrotal. Ele teme que, quando os mesmos aparecem, ele perderá a sua inocência, vivendo então sob o apelo irrevogável da luxúria. “Anjos não fodem”, explicava ele. O comportamento angelical era, portanto, um objetivo inalcançável, conforme se perceberá á medida que o filme avança...

Vi “Barnens Ö” (1980, de Kay Pollak) enquanto muitas pessoas em, minha cada zoadavam: meu irmão e minha cunhada estão ambos desempregados e minha mãe é excessivamente zelosa (logo, barulhenta). Para que eu consiga me concentrar nalgum filme, nos últimos dias, preciso recorrer a esforços hercúleos. Digo mais: não posso reclamar, a fim de prejudicar a já periclitante harmonia familiar intermitente! Em minha mente, para piorar, os arroubos do desemprego que também me atingiu...

Voltando ao filme: depois que sua mãe solteira sai da cidade, Reine desiste de ir para o acampamento de verão para o qual ela o havia mandado e zanza por Estocolmo. Foge do padrasto violento e inseguro, interage com um bando de solteironas que vivem confinadas num ateliê de costura, apaixona-se por uma atriz mambembe (o momento em que testemunhamos, em ‘close-up’, a sua primeira ereção é de uma violência poética incrível), refugia-se entre motoqueiros ébrios, adentra o setor feminino de oncologia de um hospital, e, ao final, envolve-se com delinqüentes juvenis, que resolvem pôr à prova a sua ambição de quebrar o recorde mundial de tempo sob a água: três minutos. No derradeiro depoimento, entretanto, posterior aos seus questionamentos sobre a existência de Deus e a sua própria função no mundo, Reine constata que um pêlo surgiu em seu escroto. Ele envelhecerá, gozará, fará sexo, quiçá se reproduzirá seminalmente. A vida é assim – e o filme é muito bom, corajoso, quase surreal...

Wesley PC>

Nenhum comentário: