terça-feira, 7 de outubro de 2014

IAN McEWAN RESSIGNIFICANDO A MINHA VIDA!

Não vou recair no equivocado estratagema de comparar livro e filme nem tampouco poderei demorar-me em citações proveitosas da magistral obra literária que é “Reparação” (2001), do escritor britânico Ian McEwan. Mas adianto: a versão cinematográfica que Joe Wright perpetrou em 2007 [“Desejo e Reparação”, no título brasileiro] é igualmente excelente. Diferente, porém soberba!

No filme, a personagem Briony é loira, enquanto que, no livro, ela faz questão de orgulhar-se de seus cabelos negros. Imaginativa e mui talentosa, esta garota, no auge de seus treze anos de idade, pensa ter presenciado um estupro e denuncia o namorado da irmã como culpado. Ele é preso, vai para a II Guerra Mundial e, sobre o restante, só lendo o livro, que é dividido em quatro partes: na primeira, dividida em capítulos, conhecemos os personagens e entendemos as suas motivações primárias; na segunda, unimo-nos aos dramas copiosos de guerra; na terceira, reencontramos Briony, adulta, como enfermeira; e, no quarto, glupt, a instância narrativa do romance culpa a si mesma de ser incapaz de atingir a redenção por seus pecados. O motivo: “não há reparação para Deus, ou para romancistas, mesmo se eles são ateus. Seria sempre uma tarefa impossível, e este é precisamente o ponto: a tentativa é tudo!” (página 351, a derradeira da edição anglofílica que me deram de presente).

Levei pouco mais de uma semana para ler o livro, com as devidas para respirar, visto que a minha identificação com a Briony era inevitável. Ao mesmo tempo, como não amar Cecilia Tallis e Robbie Turner, o casal que se apaixona e é impedido de levar à frente as suas pretensões românticas: ela é rica e espevitada; ele é filho da serviçal da casa, mas disposto a se formar em Medicina. Ambos são inteligentes e amorosamente correspondidos, mas... Há alguém, que faz algo, e os impede, e, assim, faz a trama jorrar. E, enquanto eu lia aquilo tudo, por mais que eu torcesse pelo amor deles [vide confirmação individual aqui], era como se eu estivesse sendo cúmplice da separação. Noutras palavras: por mais que eu tenha desgostado infinitesimalmente da Segunda Parte do livro (que era intencionalmente desagradável, forte em sua violência gráfica e sobrevivencial), estive diante de uma obra-prima, que, ao deslindar o seu desfecho transcendental, ressignificou por completo este magnífico fotograma do filme wrightiano, que tem tanto a ver com a minha vida, a minha própria vida...

Wesley PC>

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