terça-feira, 6 de maio de 2014

MÃE, TE AMO (CINEMATOGRAFICAMENTE)!



Fui apresentado à artista de origem libanesa, filha de pais palestinos, Mona Hatoum graças ao extraordinário livro “An Accented Cinema: Exilic and Diasporic Cinema”, do iraniano Hamid Naficy. No quarto capítulo do referido livro, “Epistolarity and Epistolar Narratives”, o autor lança mão de uma descrição minuciosa do curta-metragem “Measures of Distance” (1988), no qual a diretora reutiliza imagens de sua mãe despida, subpostas aos caracteres árabes das cartas que ela lhe enviara durante a guerra civil no Líbano. No início, eu estava incomodado com a excessiva “pretensão artística” do filme, que parecia muito mais uma instalação que uma obra cinematográfica em si (por mais confusa que seja esta diferenciação hoje em dia). Porém, de repente, a tela se escurece por completo (a fim de metonimizar a destruição de uma agencia dos Correios) e a voz embargada da mãe segue declarando o seu amor à filha artista e emancipada: a mãe segue prisioneira (ao menos fisicamente) das opressões de seu marido e sua cultura, que acham criminoso que ela tenha se exibido completamente nua para alguém que não seu esposo (ou proprietário, segundo a lógica local). De repente, minha mãe passa pela sala e pergunta, espantada: “oxente, este filme não tem imagem, não?”. “Não”, respondi eu, brevemente. Nesse instante, amor de mãe e filha (na tela) e filho e mãe (na sala) se equipararam surpreendentemente: incrível este curta-metragem. Agora, recomendo-o de pé, com o coração pulsando mais rápido!

Wesley PC>

Nenhum comentário: