sábado, 12 de abril de 2014

“ – NÃO SEI SE É UMA COMÉDIA OU UMA TRAGÉDIA, MAS É UMA OBRA-PRIMA! [...] – POR CAUSA DE SITUAÇÕES COMO ESTA É QUE EXISTE O TEATRO!”


Uma pena que ‘Les Parents Terribles’ tenha sido traduzido como “O Pecado Original” (1948) no Brasil. Tivesse o título original sido conservado, a coerência idílica – no que tange à ode suprema ao amor e ao narcisismo – seria mantida, tanto em relação a obras anteriores do próprio Jean Cocteau quanto a elementos internos da genial derivação teatral deste filme.

Na obra, o namorado do diretor, Jean Marais, interpreta (de forma muitíssimo afetada) Michel, um jovem extremamente mimado e adorado pela mãe, que, aos 22 anos, finalmente se apaixona por uma rapariga (Josette Day), três anos mais velha que ele. O problema é que ela fora amante do pai de Michel, que, por sua vez, ignora que sua cunhada Léo (maravilhosa interpretação de Gabrielle Dorziat) é completamente apaixonada por ele, o que explica o porquê de ela viver na mesma residência bagunçada que esta família, por mais que os seus devaneios ordeiros vão de encontro ao aspecto de reboque cigano do local. Aos poucos, estes indícios de tragédia familiar (e, ao mesmo tempo, de comédia romântica) vão se coadunando ao acaso, culminando num clímax tipicamente depressivo: a chantagem emocional, concernente ao momento em que a matriarca Yvonne (ou Sophie, como seu filho a chamava) (Yvonne de Bray) injeta veneno em suas veias por crer que seus parentes estão abandonando-a, que ela é dispensável... Não era o caso, mas, de fato, com a sua morte, Michel terá mais liberdade para viver com a sua amada Madeleine, ao passo em que sua irmã Léo poderá finalmente levar a cabo o amor que sempre sentira pelo patriarca Georges (Marcel André). Mas nada é tão simples assim e, enquanto via o filme, correlações com a minha vida particular recente se estabeleciam...

Nos derradeiros minutos da manhã de ontem, quando fui ao meu ex-setor de trabalho conversar com a minha ex-chefa, deparo-me com a minha ex-orientadora sentada exatamente na cadeira em que deseja parlamentar. Fiquei sem reação por alguns instantes, mas, como minha consciência estava tranqüila, esperei calmamente o clímax emotivo que poderia se estabelecer. Fui surpreendido por uma reação inesperada, que mantenho secreta por alguns dias, até que eu compreenda o que houve, no afã por respeitar os motivos e sentimentos da outra pessoa mencionada. No final da noite, insisti para me comunicar com uma pessoa que está lancinada por problemas familiares e, sem saber lidar adequadamente com os mesmos, vinga-se em outrem, abandonando os colegas de trabalho e maltratando os amigos. Dormi sentindo-me relativamente impotente, mas feliz pelos eventos benfazejos entre amigos que me ocorreram durante o dia. Num sonho, a angústia: parecia que eu estava dentro de um imenso filme dentro de outro filme dentro de outro filme dentro da realidade. Não sabia como sair, como despertar... Ao acordar, parecia que havia uma imensa bolha de chiclete crescendo em meu estômago: era o pretexto para que o magnífico filme do Jean Cocteau me acalmasse. A vida é mesmo maravilhosa!

Wesley PC>

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