Tive o privilégio de encontrá-lo pessoalmente mais de uma
vez (além de ajudá-lo em situações burocráticas quando trabalhava no DAA) e, por
mais simpático que ele seja pessoalmente, não mentirei: descri que a peça fosse
tão boa! Tanto que, quando telefonava para os meus amigos para convidá-los para
a encenação da mesma, eu destacava muito mais a gratuidade que as benesses
teatrais do evento. Como eu estava enganado!
Adentrei o teatro alguns minutos atrasado, mas fui logo
fisgado pelo que acontecia no palco: dois casais se revezavam na excreção
raivosa de suas frustrações maritais. Uma das mulheres gabava-se de ter uma
amante urinariamente ativa. Um dos maridos teve um flerte rápido com uma
turista italiana no passado. Talvez os dois casais fossem extensões do mesmo
par. Talvez as reclamações é que fossem parecidas e os casais diferentes. Seja
lá qual for a explicação, o texto da peça era muito bom e os atores fizeram jus
na defesa de seus papéis: gritavam, rastejavam-se pelo cenário, giravam em círculo, atiravam objetos
violentamente ao chão, brandiam, amavam!
Por mais que eu tenha me desagradado em relação ao complemento musical do
espetáculo – malgrado as canções selecionadas como trilha sonora não serem
ruins (duas executadas pela banda Plástico Lunar e outra do ótimo compositor
Alex Sant’Anna), as mesmas foram inseridas de forma inadequada, rompendo o
clima intenso da confissão de fracasso matrimonial – fiquei embasbacado com a
engenhosidade do móvel básico que servia de cenário: projetado por uma elogiada
estudante de Arquitetura, o emaranhado de pedaços de madeira que prendia e libertava
– através de movimentos ora sutis ora bruscos – os personagens foi um
incremento genial à pujança do texto. O mesmo sendo dito sobre o momento em que
os interlocutores de cada sexo sobrepunham as suas vozes, descompassadas,
enquanto narravam uma mesma situação, quando as esposas encantavam-nos ao
cantarolar uma canção do Bon Jovi. Mais tarde, cada um dos quatro personagens
subia numa espécie de púlpito e, enquanto os demais giravam no palco, narravam
a gênese psicanalítica de seus medos e cacoetes. E foi aí que eu tive certeza
do quanto Euler Lopes estava ótimo em cena: sim, não apenas ele teve uma
excelente atuação como o seu texto me deixou particularmente afetado.
Identifiquei-me sobremaneira com o seu personagem defensor da repetição dos
dias, irritado com as pessoas que dependem de irrupções imaginárias de algo que
seja “novo”. Novo por ser “novo”, apenas...
Os demais personagens eram um rapaz traumatizado por ter
sido abandonado num ‘shopping center’ quando criança (Cícero Junior), uma
rapariga perdulária que sentia pavor de ser tachada de frágil e uma moça que
eventualmente se percebia diante da tela em branco do computador, que não
queria lhe dizer nada... O mote para a peça e para todas as discussões que se
entrelaçam era a visita da amante de uma das esposas à sua casa, onde o marido
estava ausente e o banheiro disponível para o seu jorro de mijo. Afinal,
percebe-se que era tudo uma provocação. E, pouco antes, as duas mulheres (Inês
Reis e Marina Franca) passaram batom uma na boca da outra. Fantástico!
Gostei muito do que vi, ouvi e senti em “Ela Esteve Aqui”, a
ponto de fazer questão de cumprimentar o autor ao final do espetáculo. Ele
estava suado, claro, extenuado, mas muito feliz por perceber que fora tão
exitoso em comunicar à platéia o que pretendia. Parabenizei-o pessoalmente,
mas, por medo de não ter sido suficientemente compreendido, refaço-o aqui:
parabéns sinceros, Euler. Gostei muitíssimo do que vi!
Wesley PC>
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