Estou chegando ao estágio final de meu Mestrado e, como tal,
precisarei dedicar-me cada vez mais à minha dissertação. Para tal, acatei com fervor
uma sugestão que me foi dada durante o meu exame de qualificação: ler com
cuidado a dissertação “A Cultura do Lixo: Horror, Sexo e Exploração no Cinema”
(2002), de Lúcio de Franciscis dos Reis Piedade. Ainda estou no antepenúltimo
capítulo, mas, até agora, gostei enormemente do que descobri no texto. Exemplo
primordial: descobrir que “Mona: The Virgin Nymph” (1970, de Howard Ziehm) é,
oficialmente, o primeiro filme “a associar uma linha narrativa estrutura com
sexo não simulado”. Além disso, constatei que ainda na vi nenhuma das obras canônicas
do ‘explitation’ dirigidas por Hershell Gordon Lewis. Preciso corrigir isto o
quanto antes!
Enquanto as oportunidades acima mencionadas não chegam,
contento-me sobremaneira em revalorizar a filmografia de Victor di Mello, cada
vez mais se apresentando para mim como um grande cineasta. “O Seqüestro” (1981)
que o diga! Vi este filme na manhã de ontem e continuo impressionado com os
seus diversos méritos extra-narrativos!
Além de ser um exímio filme policial, que reconstitui com
brilhantismo as investigações sobre o seqüestro de um garotinho, filho de um
industrial falido, aos poucos, o roteiro desvenda estórias de corrupção, de
ninfomania e de resquícios de tortura militar que me deixaram estupefato: como
permitiram que este filme fosse lançado?!
Num dos momentos mais insuspeitadamente geniais, inclusive,
o personagem do produtor Carlo Mossy, um detetive que faz questão de andar com
um chapelão estadunidense na cabeça, é flagrado fazendo sexo com um travesti,
irritando-se com o seu colega homofóbico. Noutro instante, quando se descobre a
sanha erótica da personagem de Helena Ramos, mãe do garotinho seqüestrado,
diversas cenas de sexo – com homens absolutamente diferentes – numa praia se
sucedem. Um apanhado incrível de fodas oportunistas (a vagina da atriz é
mostrada em ‘close-up’), mas integradas de forma mui crítica à narrativa, em
que se descobre posteriormente que um dos motivos que justificaram o falso seqüestro
(na verdade, o pai do garoto é o culpado por sua organização) foi a suspeita de
que os filhos desta personagem ninfômana seriam ilegítimos, pertencentes a pais
desconhecidos. Sem contar que a canção-tema de Marcus Valle associa a malevolência
disfarçada dos policiais a violentos instintos animalescos, num cotejo
associativo com o que se percebeu em “Serpico” (1973, de Sidney Lumet),
mencionado nos créditos finais. Um filme absolutamente genial e injustamente
desconhecido. Precisamos exibi-lo e retrazê-lo à tona!
Wesley PC>
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