quinta-feira, 14 de novembro de 2013

"VOCÊS, HOMENS, SÓ GOSTAM DE LUTAS E MORTE; NÓS, MULHERES, PREFERIMOS UM PRATO CHEIO DE AMOR!"

Era evidente que um filme sobre 'kickboxing' realizado pela Boca do Lixo paulistana, por um medíocre realizador de filmes eróticos, seria ruim. Mas, ainda assim, a experiência de ver "A Gaiola da Morte" (1992, de Waldir Kopezky) não é desprezível: para além das ridículas cenas de luta e do roteiro canhestro, há uma involuntária defesa espectral do sexo enquanto instância unificadora...

No enredo, a inconvincente policial interpretada por Cláudia Abujamra une-se ao lutador Paulo Zorello para encontrar o seu irmão desaparecido. Também lutador de artes marciais, este irmão foi raptado por uma organização criminose que promove lutas ilegais até a morte. Inicialmente, o lutador Paulo reluta em acreditar no que lhe diz a policial, mas, subitamente, ele se apaixona por ela e resolve mergulhar na aventura, sendo também aprisionado no ringue fatal, onde eletrochoques antecedem declarações estapafúrdias ressoadas num alto-falante, como a que se segue: "a guerra é o caminho verdadeiro para a paz. Somente através do ódio se pode chegar ao amor!". 

Enquanto o filme, obviamente, é entulhado de seqüências de luta, músicas associadas a erotismo e um clima pornográfico rondam os personagens, que, a cada pretexto, dão a entender que foderão. Porém, quem faz realmente sexo no filme é uma assistente forçada de vilã (vivida por Daliléia Ayala), a personagem que pronuncia a declaração que intitula esta publicação: além de dopar os lutadores aprisionados, ela oferece-se sexualmente a eles antes de suas lutas derradeiras, quando supostamente serão derrotados e assassinados. No elenco, diversos lutadores famosos da época, como um tal de Mestre Maurício, que consegue fugir e ajuda os protagonistas a se safarem dos bandidos e policiais corruptos.

Cenas de humor involuntário não faltam, logicamente, mas o que mais me impressionou foi a referida onipresença de um erotismo interdito. Chutes e espancamentos são tolerados; beijos e alisamentos genitais, não. Estamos na década de 1990, após o fechamento da Embrafilme e em plena crise-mor do cinema brasileiro: não é casual que se perpetue o que o roteiro deixa nas entrelinhas, em seu afã imitativo pelos ganchos enredísticos caros às produções de Jean-Claude Van Damme que eram consumidos a rodo na época... Ai, ai!

Wesley PC>

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