Era evidente que um filme sobre 'kickboxing' realizado pela Boca do Lixo paulistana, por um medíocre realizador de filmes eróticos, seria ruim. Mas, ainda assim, a experiência de ver "A Gaiola da Morte" (1992, de Waldir Kopezky) não é desprezível: para além das ridículas cenas de luta e do roteiro canhestro, há uma involuntária defesa espectral do sexo enquanto instância unificadora...
No enredo, a inconvincente policial interpretada por Cláudia Abujamra une-se ao lutador Paulo Zorello para encontrar o seu irmão desaparecido. Também lutador de artes marciais, este irmão foi raptado por uma organização criminose que promove lutas ilegais até a morte. Inicialmente, o lutador Paulo reluta em acreditar no que lhe diz a policial, mas, subitamente, ele se apaixona por ela e resolve mergulhar na aventura, sendo também aprisionado no ringue fatal, onde eletrochoques antecedem declarações estapafúrdias ressoadas num alto-falante, como a que se segue: "a guerra é o caminho verdadeiro para a paz. Somente através do ódio se pode chegar ao amor!".
Enquanto o filme, obviamente, é entulhado de seqüências de luta, músicas associadas a erotismo e um clima pornográfico rondam os personagens, que, a cada pretexto, dão a entender que foderão. Porém, quem faz realmente sexo no filme é uma assistente forçada de vilã (vivida por Daliléia Ayala), a personagem que pronuncia a declaração que intitula esta publicação: além de dopar os lutadores aprisionados, ela oferece-se sexualmente a eles antes de suas lutas derradeiras, quando supostamente serão derrotados e assassinados. No elenco, diversos lutadores famosos da época, como um tal de Mestre Maurício, que consegue fugir e ajuda os protagonistas a se safarem dos bandidos e policiais corruptos.
Cenas de humor involuntário não faltam, logicamente, mas o que mais me impressionou foi a referida onipresença de um erotismo interdito. Chutes e espancamentos são tolerados; beijos e alisamentos genitais, não. Estamos na década de 1990, após o fechamento da Embrafilme e em plena crise-mor do cinema brasileiro: não é casual que se perpetue o que o roteiro deixa nas entrelinhas, em seu afã imitativo pelos ganchos enredísticos caros às produções de Jean-Claude Van Damme que eram consumidos a rodo na época... Ai, ai!
Wesley PC>
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