domingo, 10 de novembro de 2013

"MEU MAIOR PESAR É NÃO TER ETERNIZADO NADA..."

Aos domingos, minha mãe faz questão de assistir a um seriado espanhol chamado "Hermanas" (1998-1999), exibido no Brasil pela TV Aparecida. As protagonistas são freiras e, entre elas, há o fantasma de uma freira falecida. No episódio de hoje, uma freira oferece ao fantasma um copo de licor. Esta retruca: "a pior coisa de não se ter mais corpo é não poder ceder às vontades". Para quem não sabe, a TV Aparecida é um canal católico. Como será que os administradores do mesmo reagiram a esta sugestão eclesiástica? Será que eles prestam atenção ao que exibem?

Pelo sim, pelo não, enquanto minha mãe via o referido seriado, eu rememorava em minha mente o filme "A Eternidade e um Dia" (1998, de Theo Angelopoulos), que vi na manhã de hoje, com o intuito de afastar as imagens tenebrosas do pesadelo com mortos-vivos que tive ao longo de toda a madrugada. Ao contrário dos demais filmes do diretor, entretanto, este me enfadou deveras. O problema talvez seja a sua exacerbada ênfase na questão da imigração, a partir da figura de um garotinho albanês que trabalha como flanelinha nas ruas helênicas e resolve vender algumas palavras nostálgicas ao protagonista, um poeta portador de uma doença terminal, maravilhosamente interpretado por Bruno Ganz.

Três eram as palavras vendidas: 'korfulamu' [que significa 'o coração de uma flor']; 'xenitis' ['um estrangeiro perpétuo']; e 'argathini' [que quer dizer 'muito tarde' ou, simbolicamente, 'o crepúsculo de uma vida']. Excetuando-se o uso poético destas palavras, as cenas no interior de meios de transporte (em especial, um ônibus) e o instante em que o título é explicado como sendo o tempo que falta para o surgimento do amanhã, o filme me deixou enfadado. Achei a produção menos interessante - de longe - de seu diretor. Quando eu tiver a oportunidade de revê-lo, talvez esteja mais preparado para enfrentar os temas que me incomodam, mas, por ora, mesmo não tendo apreciado tanto o filme, elogio-o deveras, visto que ele me fez experimentar novamente a plenitude da imagem-tempo. Eu estava precisando...

Wesley PC>

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