quarta-feira, 6 de novembro de 2013

EU ESTRAGARIA UMA AMIZADE POR CAUSA DE UMA CHUPADA?

Esta é uma das questões moralmente paradigmáticas que ficaram reverberando em minha mente após ter visto o surpreendente e obsedante “Obsessão” (2012, de Lee Daniels). Duvidava que este filme fosse tão interessante, mas o modo como o diretor se serve de estratagemas do ‘sexploitation’ para narrar uma trama entrecortada por questões raciais me cativou: o foco, perceptivelmente, são as tensões de classe (e raça) que arregimentaram as regiões pantanosas dos EUA no final da década de 1960, mas o diretor, quiçá influenciado por Russ Meyer e/ou Larry Clark, mais que por Melvin Van Peebles e/ou Spike Lee, deu atenção muito especial ao erotismo rasteiro (e bem-vindo), fazendo com que Zac Efron vista uma tentadora cueca branca durante quase toda a extensão do filme, em que cita suas masturbações compensatórias o tempo inteiro. Noutra cena, a personagem de Nicole Kidman arreganha as pernas para fazer com que o presidiário interpretado por John Cusack ejacule de tesão. O jornalista vivido por Matthew McConaughey tem uma ereção, enquanto o londrino pedante vivido por David Oyelowo se incomoda com a situação. De minha parte, fiquei excitadíssimo também: gostei muito do filme!

O que mais me impressionou no roteiro é como o sexo oral é elevado a uma condição motivacional de personalidade: é através dele que uma mulher pressupõe a inocência de um suposto assassino; é através dele que uma perpétua relação afetiva se instala; é através dele que um rapaz abandonado pela mãe se constata homossexual e aficionado por relações inter-raciais de caráter fetichista. Não posso falar mais, mas este precisa ser visto e discutido: é muitíssimo atraente – e não deve estar sendo tão perseguido pela crítica por acaso!

Não obstante as cenas mais consagradas do filme serem aquela em que Nicole Kidman mija no rosto de Zac Efron ou o instante lindo em que ambos dançam juntos, a narração firme e intervencionista de Macy Gray e as situações secundárias (e erotizadas) que circunvizinham a ebulição rácica e criminal do contexto histórico-político de que o roteiro baseado num romance de Pete Dexter (que contribuiu diretamente na reescritura do mesmo) se serve também são extremamente relevantes para a sedução do espectador. O filme é muito audacioso em sua introdução de elementos tão pervertidos no conservadorismo hollywoodiano. O estupor metonimizado na imagem que o diga! E, felizmente ou não, o que eu tinha para dizer (em relação à minha insônia existencial) a partir do título desta publicação fica para outro dia... O filme fala mais alto por ora!

Wesley PC>

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