segunda-feira, 11 de novembro de 2013

“É BOM SENTAR NO ESCURO, ESPERANDO O MEDO CHEGAR...”

Assim propõe uma criança, não por acaso de nome Marcelo (Pedro Coelho), em “O Anjo da Noite” (1974), um dos poucos filmes de Walter Hugo Khouri que eu ainda não tinha visto. Acabo de sair da sessão e confesso: estou impressionado!

Pioneiro no subgênero de terror com ameaças telefônicas a babás, este filme é protagonizado pela magistral Selma Egrei, cujos olhos expressivos são utilizados à exaustão dramática pelo diretor, como é freqüente em seus filmes. Ela interpreta uma estudante de Psicologia contratada para cuidar de duas crianças numa fazenda, enquanto seus pais riquíssimos cumprem uma obrigação pequeno-burguesa. A mãe (Lílian Lemmertz) recebe a nova contratada nua; o pai (Fernando Amaral) a surpreende enquanto ouve músicas de Johann Sebastian Bach. O vigia da residência (Eliezer Gomes) a conforta: “há vinte e três anos que eu trabalho aqui”.Foi há vinte e três anos que eu nasci”, responde a babá, que, acostumada aos barulhos da cidade, estranha a calmaria do campo. O vigia, por sua vez, disse que esqueceu os ruídos urbanos e não faz a mínima questão de lembrar. Vendo que ela não consegue dormir, ele lhe oferece café com pão, queijo e goiabada. Ela aceita, relutantemente. Ela precisa estudar. Ele afirma que não sente medo da noite, mas antes uma ansiedade, uma tristeza que assombra...

No meio da noite, Marcelo acorda. Intimidado pela beleza da lua, ele aponta a sua metralhadora de brinquedo contra ela. Em plena madrugada, ele pede à sua babá e ao vigia que eles lhe permitam andar de motocicleta pelo jardim. Os ruídos do veículo, em mais de um instante, confundem-se com a trilha musical de Rogério Duprat, que também se mistura com os sons de cigarras. É um filme de terror, sem dúvidas: ao final, babá e crianças são mortos. Não é uma situação previsível – ou talvez o seja pela perturbadora obviedade dos fatos inesperados que se concatenam. Minha mãe não agüentou ver o filme até o final. O achou demasiado fúnebre. De minha parte, aqui eu entendi preciosamente o quanto o diretor é influenciado pelo Michelangelo Antonioni: os planos gerais que demonstram o quanto a arquitetura da casa é apavorante tem tudo a ver com o genial cineasta italiano. “O Anjo da Noite” é um filme maravilhoso. Uma jóia brasileira clamando para ser devidamente valorizada!


Wesley PC> 

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