quarta-feira, 16 de outubro de 2013

“FAÇAMOS A REVOLUÇÃO ANTES QUE O POVO A FAÇA!”

Eu já disse que amo o cineasta sulista Sylvio Back? Apesar de sua obra-prima fílmica ser o clássico “Aleluia, Gretchen” (1976), ele é conhecido mesmo por seus documentários irônicos e desmistificadores. Já havia visto – e gostado muito – de “Rádio Auriverde” (1991) e “Yndio do Brasil” (1995). Na manhã de hoje, vi o melhor deles, o genial “Revolução de 30” (1980), montado a partir de uma trintena de filmes, inclusive ficcionais, previamente realizados. Historiadores consagrados como Boris Fausto, Paulo Sérgio Pinheiro e Edgard Carone faziam os providenciais comentários em ‘off’, visto que o filme rejeita a narração tradicional comum aos produtos do gênero lançados na época. Apesar de não ser muito “didático” em relação ao seu assunto titular (o filme está muito mais interessado em comentar criticamente os interesses escusos dos ditos revolucionários que em explicar para o espectador o quer houve), o roteiro é primoroso em suas contribuições discursivas, em especial quando um dos historiadores deixa bem claro que a revolução não fora efetivamente popular, “mas apenas a substituição de uma oligarquia por outra”. Gostei muito!

A participação mui relevante do político paraibano João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque no levante retratado foi particularmente interessante para mim, visto que eu pesquisei um pouco sobre o assunto antes de viajar para o Estado natal deste político, assassinado em 26 de julho de 1930 por motivos internos que logo foram ressignificados pelo evento nacional mais geral. Interrompeu-se naquele ano a “política do café com leite” que conferia a presidência do Brasil apenas a políticos paulistas ou mineiros, produtores mais destacados dos víveres mencionados na antonomásia política. Se, um dia, eu tiver a oportunidade contratual de ser um professor, seja lá de qual disciplina, deixo firmado aqui o compromisso de exibir este documentário em sala de aula: ele é genial tanto enquanto aula de História quanto enquanto demonstração do potencial sarcástico do cinema. Uma pérola na cinematografia brasileira, uau!


Wesley PC> 

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