Este é o título de um livro aprisionado no rótulo de “paradidático”
que descobri na noite de anteontem, graças a um rapaz de treze anos que queria
que eu o ensinasse a jogar xadrez. Ele está na sétima série (oitavo ano do
ensino fundamental) e elogiou bastante o referido livro durante a leitura, de
modo que fiquei levemente curioso para saber do que se tratava, no afã por
encontrar algum artefato literário juvenil que correspondesse à saudosa Coleção
Vaga-Lume. Para a minha surpresa, não é que o livro é ótimo?
Em verdade, trata-se de uma coletânea de contos distribuídos
em mais ou menos 80 páginas. Pensei em ler o primeiro deles, “Sobre a Minha
Inexistência”, antes de dormir, e me apaixonei: o estilo do escritor Marco
Túlio Costa é espetacular: o modo como o título é explicado (na prática metalingüística)
durante o texto é genial!
Publicado em 2011, o autor refere-se a “Mágica para Cegos”
como um conjunto de contos e contracontos que se interligam. O tema da loucura
delirante é comum às oito estórias, sendo o conto que intitula o livro o mais
inteligente e sensível deles: fala sobre uma cidade em que todos os habitantes,
tanto humanos quanto animais, são cegos! E, de repente, aparece um mágico entre
eles, encantando a todos com os seus truques espetaculares, que ninguém vê,
apenas se ouve as descrições. Até que, numa legítima tática saramaguiana, um
dos moradores recupera a visão e resolve desmascarar o mágico. O que acontece é
elipticamente magistral!
No livro, encontramos também “Destinos Cruzados”, uma trama
em que um caminhoneiro (que mais tarde sabemos ser imaginário) encontra um
toxicômano pretensamente reabilitado que lhe confessa, aos prantos, o quanto o
seu vício em ‘crack’ o levou a situações degradantes, como roupar o terno e os
sapatos do pai de seu caixão, logo após o funeral, para vender e trocar por
pedras da referida droga. Como experimento versões muito mais leves deste
problema de “queimar a casa para usar drogas” em minha família, não pude deixar
de me emocionar bastante com esta estória. Digo mais: não sei até que ponto
consideraria este estilo juvenil. A maturidade autoral do escritor é
impressionante. Recomendo alguns contos do livro para qualquer amante da
literatura, sem receio de estar exagerando em minha empolgação.
Os demais contos do livro [“O Distrato”, “Sinal Aberto”, “Notícia
Urgente”, “Vida de Mula” e “A Ratoeira”] também possuem seus méritos
imponentes, mas os três que eu destaquei são excelentes e, só por eles, o meu
espanto frente à qualidade discursiva do livro se instaura e justifica: ótima
surpresa, quem diria?
Cheguei a comentar
com o garoto que mo emprestou que o considerei “muito difícil para a sua idade”.
Ele concordou, mas não rejeitou a boa experiência de tê-lo lido. Fiquei
contente. Apesar de temer admitir isso, acho que sou mesmo um homem
esperançoso...
Wesley PC>
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