segunda-feira, 30 de setembro de 2013

EM AGRADECIMENTO ÀS COISAS NOVAS QUE NEOSVALDO TROUXE PARA A MINHA IDA – E/OU ÀS COISAS ANTIGAS QUE ELE ME AJUDOU A PERCEBER COMO NOVAS...

Na manhã desta segunda-feira, deparei-me com algo absolutamente inusual num desenho animado: era um episódio de “A Turma da Mônica” no Cartoon Network. O personagem Cebolinha estava contando a seu amigo cascão que seus pais sairiam para uma festa e o deixariam sozinho em casa. De repente, uma babá surge. Ao invés de alguém rejeitável, aparece em cena uma belíssima adolescente loira, com roupas curtas e coladas ao corpo. Ambos os garotos ficam excitados e apaixonam-se por ela no ato. Brigam no afã por conquistá-la. A adolescente finge que não percebe e os trata com afeto exacerbado, tentando impedir que eles brigassem. Ela, então, prepara uma lasanha no forno microondas e, depois, pede licença para ir ao banheiro. Intrigado, Cascão se interroga: “será que meninas também evacuam?”. Cebolinha acha a pergunta um disparate, mas Cascão não consegue segurar a curiosidade e, quando a jovem regressa, ele sutilmente pergunta se ela também caga. A resposta dela: “claro que sim. Mas o nosso cocô sai branquinho, com formatos de animais e perfume de rosas”... Cascão rebate: “deixa eu ver?”. Eu fiquei escandalizado.

 Enviei o conteúdo surpreendente deste episódio animado através de SMS a diversos amigos, incluindo uma pessoa que se recusa a falar comigo. Recebo desta última uma mensagem cifrada, dizendo que eu tentei entrar em contato com a pessoa errada. Ela assinava como Neosvaldo. Eu não me fiz de rogado e agradeci-lhe pela novidade, antecipando-me em dizer que, em seguia, voltaria a ler o romance do Henry Miller que me motiva nos últimos dias...

 Entretanto, não consegui parar de pensar no Neosvaldo: por conta dele, resolvi assistir a um filme completamente desconhecido que eu tinha gravado há dois anos, “Varljivo Leto ‘68” (1984, de Goran Paskaljevic - em tradução literal, algo como "o verão evasivo de 1968"), sobre um rapazola iugoslavo que narra as suas descobertas amorosas no convulsivo ano de 1968. Logo no prólogo, ele declara que resolveu estudar o marxismo porque se apaixonou por sua professora de Sociologia. Uma gravura de Karl Marx pisca o olho para ele, mas a moça é comprometida, o decepciona involuntariamente. Daí por diante, ele se apaixonará por diversas outras raparigas, desde uma vizinha musicista até a noiva ninfômana de um padeiro, passando pelas filhas gêmeas de um colega de seu pai juiz. Mas ele perderá a virgindade, aos 18 anos de idade, com uma garota que toca numa orquestra de meninas tchecas, no exato dia em que as tropas russas invadem Praga. Ela volta para o seu país-natal, depois de ter transado na copa de um salgueiro... e ele nunca mais a encontra!

 É um filme abobalhado, repleto de momentos tolos e/ou subaproveitados, mas tem os seus méritos, por mais que estes estejam sujeitos a uma espécie de ressentimento anticomunista. Na TV, o noticiário registra eventos importantes do ano em que se passa a ação. O avô do protagonista, por sua vez, é um fanfarrão. Chegara a participar de algumas fitas pornográficas na juventude. Numa delas, apreendida e julgada pelo pai do rapaz, um velho é cercado por três lúbricas moçoilas sob um lençol, numa cama. Olhando para a tela, ele exclama: “Olha quanta carne boa! Pena que eu seja vegetariano...”. Era para eu ter rido?

 Seja como for, fiquei ansioso para narrar tudo isso para Neosvaldo, bem como as duas descobertas imediatamente seguintes à audiência ao filme: 1 – que o número 153 não é primo (na verdade, ele é múltiplo de três, é o produto da multiplicação de nove por dezessete); e 2 – que o livro do Barthélemy Amengual que eu estava esperando chegou, acaba de ser entregue pelos Correios. Êba! Caro Neosvaldo, tu chegaste em um momento mui oportuno de minha vida. Muito obrigado! Lembrando que, enquanto almoçava, o pai do protagonista Petar (Slavko Stimac) explica-nos uma valiosa lição pós-gastronômica: "o que é verde hoje, é vermelho amanhã, e amarelo depois de amanhã...". Entendemos?

 Wesley PC>

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