domingo, 29 de setembro de 2013

DIÁRIO DE UM UNIVERSOTÁRIO: DOMINGO, 29 DE SETEMBRO DE 2013.

Acordei mais cedo do que imaginava. Antes mesmo de minha mãe oferecer-me o desjejum, já estava com o livro do Henry Miller que estou lendo por esses dias (e que menciono aqui) nas mãos. Numa das páginas, o autor/rememorador/narrador comenta que quando se está apaixonado, carece-se de ter ereções. E, enquanto cochilava, eu imaginava-me perdendo a virgindade anal, entregando-a a um homem que amo. Dizia-lhe eu, num ímpeto de desejo e ousadia: “tore meu cu ao meio, como já está tolhido o meu coração de amor por ti!”. Ele sorria, e obedecia ao que eu lhe solicitava. Na fantasia, eu gozava. “Apanhei um livro e li. A gente pode aproveitar alguma coisa de um livro, mesmo um livro ruim... mas uma boceta é pura perda de tempo...”, comentava a instância narrativa do Henry Miller na página 137. E eu não me sentia entediado: tanto a fazer, tanto a ser feito...

Às 19h, soube que “Tropicália” (2012, de Marcelo Machado) seria exibido no canal fechado VH1. Sempre quis ver este filme. Um amigo goiano que acho lindo gosta bastante dele. Durante a sessão, recebi um telefonema de outro amigo goiano. O filme é ótimo, mas poderia ser ainda melhor. Começa bem, evolui bem, mas, ao final, se desvia um tanto der seu objetivo mais geral: Caetano Veloso demais, Gilberto Gil demais, e o tropicalismo fica completamente condicionado à influência deles, conforme menciona de maneira assumidamente imodesta o primeiro cantor num programa televisivo português datado de 1969. E é só isso? Tsc, tsc, tsc...

Apesar do aparente desdém manifesto no final do parágrafo anterior, o filme me deixou empolgadíssimo: as intervenções de Tom Zé, o excelente material de arquivo (inclusive cinematográfico), o diálogo direto com “Uma Noite em 67” (2010, de Ricardo Calil & Renato Terra – resenhado aqui), muitos são os elementos egrégios deste filme, cujo ponto máximo é, sem dúvida, o instante em que Caetano Veloso é hostilizado pela platéia da USP, enquanto tentava cantar “É Proibido Proibir”. O compositor dizia “não ao ‘não’”, mas as vaias eram altissonantes. Universotários foi a gíria que surgiu. Até que ele lança a fórmula de que me servirei com fervor daqui por diante: “se vocês forem em Política como são em Estética, estamos feitos!”. O contrário também é válido – e assustador. Não era por acaso que o artista baiano confessava o seu receio frente à manifestações de adesão popular massiva que  se espalham com tanta facilidade. Gilberto Gil, por sua vez, voltou atrás: participou do protesto contra a guitarra elétrica na MPB, mas depois convidou os geniais Os Mutantes para subirem ao palco com ele, e, juntos, cantaram “Domingo no Parque”. Merecido prêmio de Melhor Arranjo num festival de música (o da TV Record?) par Rogério Duprat.

Minha mãe achou os cabelos do jovem Jorge Mautner muito bonitos. Vários são aqueles que dizem que o jovem Caetano Veloso se parece comigo hoje. O amante com que fantasiei descabaçadoramente pesa mais que eu, bem mais que eu. Mas o amor... Ah, o amor! E a música! E o cinema! E a família! E os amigos! E a literatura! E tudo junto!


Wesley PC> 

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