Acordei mais cedo do que imaginava. Antes mesmo de minha mãe
oferecer-me o desjejum, já estava com o livro do Henry Miller que estou lendo por esses dias (e que menciono aqui) nas mãos. Numa das páginas, o autor/rememorador/narrador comenta
que quando se está apaixonado, carece-se de ter ereções. E, enquanto cochilava,
eu imaginava-me perdendo a virgindade anal, entregando-a a um homem que amo. Dizia-lhe
eu, num ímpeto de desejo e ousadia: “tore meu cu ao meio, como já está tolhido
o meu coração de amor por ti!”. Ele sorria, e obedecia ao que eu lhe
solicitava. Na fantasia, eu gozava. “Apanhei um livro e li. A gente pode
aproveitar alguma coisa de um livro, mesmo um livro ruim... mas uma boceta é
pura perda de tempo...”, comentava a instância narrativa do Henry Miller na
página 137. E eu não me sentia entediado: tanto a fazer, tanto a ser feito...
Às 19h, soube que “Tropicália” (2012, de Marcelo Machado)
seria exibido no canal fechado VH1. Sempre quis ver este filme. Um amigo goiano
que acho lindo gosta bastante dele. Durante a sessão, recebi um telefonema de
outro amigo goiano. O filme é ótimo, mas poderia ser ainda melhor. Começa bem,
evolui bem, mas, ao final, se desvia um tanto der seu objetivo mais geral:
Caetano Veloso demais, Gilberto Gil demais, e o tropicalismo fica completamente
condicionado à influência deles, conforme menciona de maneira assumidamente
imodesta o primeiro cantor num programa televisivo português datado de 1969. E
é só isso? Tsc, tsc, tsc...
Apesar do aparente desdém manifesto no final do parágrafo
anterior, o filme me deixou empolgadíssimo: as intervenções de Tom Zé, o
excelente material de arquivo (inclusive cinematográfico), o diálogo direto com
“Uma Noite em 67” (2010, de Ricardo Calil & Renato Terra – resenhado aqui),
muitos são os elementos egrégios deste filme, cujo ponto máximo é, sem dúvida,
o instante em que Caetano Veloso é hostilizado pela platéia da USP, enquanto
tentava cantar “É Proibido Proibir”. O compositor dizia “não ao ‘não’”, mas as
vaias eram altissonantes. Universotários foi a gíria que surgiu. Até que ele
lança a fórmula de que me servirei com fervor daqui por diante: “se vocês forem
em Política como são em Estética, estamos feitos!”. O contrário também é válido
– e assustador. Não era por acaso que o artista baiano confessava o seu receio
frente à manifestações de adesão popular massiva que se espalham com tanta facilidade. Gilberto
Gil, por sua vez, voltou atrás: participou do protesto contra a guitarra
elétrica na MPB, mas depois convidou os geniais Os Mutantes para subirem ao
palco com ele, e, juntos, cantaram “Domingo no Parque”. Merecido prêmio de
Melhor Arranjo num festival de música (o da TV Record?) par Rogério Duprat.
Minha mãe achou os cabelos do jovem Jorge Mautner muito
bonitos. Vários são aqueles que dizem que o jovem Caetano Veloso se parece
comigo hoje. O amante com que fantasiei descabaçadoramente pesa mais que eu,
bem mais que eu. Mas o amor... Ah, o amor! E a música! E o cinema! E a família!
E os amigos! E a literatura! E tudo junto!
Wesley PC>
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