"Sento sempre nas primeiras fileiras. Não
há nenhuma distância respeitável a manter entre eu e o filme. O prazer
de ser esmagado por uma imagem cinematográfica. O prazer de ser
esmagado.
O corpo sempre oferece, de início, uma
certa resistência. O objeto cinematográfico válido é aquele que vence a
resistência, aquele que abre o corpo para celebrar dentro de uma missa.
Acontece então a grande efusão, os fogos
de artifício. Assim como a pedra penetra a água, irradia ondas
circulares, o objeto cinematográfico nos desperta para a vida múltipla: o
cigarro que a velha senhora apaga dentro do ovo não é só cinismo para
com a sociedade, evoca também os seus desejos sexuais, os seus desejos
de matança, a ânsia de atingir o centro do mundo, volta à infância… O
objeto não fica num só plano, ergue-se sempre mais alto, cai sempre mais
baixo. Aproximação mítica.
Só assim pode viver o mito: não se fixa e
não vem quando é chamado. O mito lança-se sobre a gente como a água
sobre o coelho, violentamente. Cruelmente. Uma sessão de cinema é uma
sessão de estupro."
(Jean-Claude Bernardet - "Amo o Cinema" - julho de 1960)
Deu para entender mais ou menos como eu me sinto agora?
Wesley PC>
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