sábado, 24 de agosto de 2013

“A VIDA TINHA-LHE ENSINADO QUE A MELHOR MANEIRA DE DEFENDER OS SEGREDOS PRÓPRIOS AINDA É GUARDAR RESPEITO AOS SEGREDOS ALHEIOS” (“Todos os Nomes” – José Saramago – páginas 147-148)

O título desta publicação confessional é uma provocação. Porém, o intuito dominante da mesma é lidar com que, parafraseando um amigo meu, eu poderia chamar de “ressaca pós-qualificação”. Afinal de contas, na última terça-feira, após um ano e meio de tumultuadas pesquisas de Mestrado, eu defendi o meu protótipo dissertativo acerca das contradições elementares e contextuais da Boca de Lixo paulistana durante a primeira metade da década de 1980.

Para o meu orgulho, a sala esteve cheia: vieram amigos de diversas épocas, além de ex-companheiros de trabalho, colegas de classe e calouros para quem tive o privilégio de conceder três aulas. Alguns ficaram chocados com a inserção de uma foto minha, completamente nu, num dos ‘slides’ de minha apresentação, mas o motivo para que eu incorresse em tal atitude ousada foi explicitar a minha nudez em relação àquilo que pesquiso, bastante pessoal para mim, enquanto ser humano interagindo numa sociedade preconceituosa. As perguntas e questionamentos que me foram destinados na banca foram prestimosos, bem como as sugestões elencadas ao final. Senti-me contente ao final do processo: estou preparado para me aventurar em direção à defesa definitiva de meu ponto de vista dissertativo, a ocorrer por volta de março de 2014. Eu amo o que faço e espero não ter feito de forma mal-intencionada o que venho fazendo até então.

Ao chegar em casa, a fim de relaxar, prossegui a leitura de “Todos os Nomes”, livro publicado em 1997 pelo português José Saramago, que narra as desventuras de um burocrata que trabalha num gigantesco registro de nascimentos e mortes que se torna obcecado por uma mulher cuja ficha apresenta algumas insuficiências cadastrais, relativas a averbações matrimoniais, ou algo parecido. Incapaz de solucionar o problema informativo que lhe aflige, este burocrata até então exemplar, chamado José, passa a desempenhar pessimamente o seu trabalho, a infringir algumas regras, a agir como um bandido. Os motivos existenciais: a auto-afirmação de que “a pele é tudo quanto queremos que os outros vejam de nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos” (p. 157) e a admoestação imperativamente destinada a ele, que lhe dizia que “tens de aprender a viver com a escuridão de fora como aprendeste a viver coma  escuridão de dentro” (p. 177). Ambas destinam-se a mim, por extensão. Seguirei na leitura, seguirei na pesquisa: estou qualificado (seja lá o que isso queira dizer), ufa!


Wesley PC> 

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