O título desta publicação confessional é uma provocação.
Porém, o intuito dominante da mesma é lidar com que, parafraseando um amigo
meu, eu poderia chamar de “ressaca pós-qualificação”. Afinal de contas, na
última terça-feira, após um ano e meio de tumultuadas pesquisas de Mestrado, eu
defendi o meu protótipo dissertativo acerca das contradições elementares e contextuais
da Boca de Lixo paulistana durante a primeira metade da década de 1980.
Para o meu orgulho, a sala esteve cheia: vieram amigos de
diversas épocas, além de ex-companheiros de trabalho, colegas de classe e
calouros para quem tive o privilégio de conceder três aulas. Alguns ficaram
chocados com a inserção de uma foto minha, completamente nu, num dos ‘slides’
de minha apresentação, mas o motivo para que eu incorresse em tal atitude
ousada foi explicitar a minha nudez em relação àquilo que pesquiso, bastante
pessoal para mim, enquanto ser humano interagindo numa sociedade preconceituosa.
As perguntas e questionamentos que me foram destinados na banca foram
prestimosos, bem como as sugestões elencadas ao final. Senti-me contente ao
final do processo: estou preparado para me aventurar em direção à defesa
definitiva de meu ponto de vista dissertativo, a ocorrer por volta de março de
2014. Eu amo o que faço e espero não ter feito de forma mal-intencionada o que
venho fazendo até então.
Ao chegar em casa, a fim de relaxar, prossegui a leitura de “Todos
os Nomes”, livro publicado em 1997 pelo português José Saramago, que narra as
desventuras de um burocrata que trabalha num gigantesco registro de nascimentos
e mortes que se torna obcecado por uma mulher cuja ficha apresenta algumas insuficiências
cadastrais, relativas a averbações matrimoniais, ou algo parecido. Incapaz de
solucionar o problema informativo que lhe aflige, este burocrata até então
exemplar, chamado José, passa a desempenhar pessimamente o seu trabalho, a
infringir algumas regras, a agir como um bandido. Os motivos existenciais: a
auto-afirmação de que “a pele é tudo quanto queremos que os outros vejam de
nós, por baixo dela nem nós próprios conseguimos saber quem somos” (p. 157) e a
admoestação imperativamente destinada a ele, que lhe dizia que “tens de
aprender a viver com a escuridão de fora como aprendeste a viver coma escuridão de dentro” (p. 177). Ambas destinam-se
a mim, por extensão. Seguirei na leitura, seguirei na pesquisa: estou
qualificado (seja lá o que isso queira dizer), ufa!
Wesley PC>
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