Em quase todos os veículos de comunicação de massa, o
assunto dos últimos dias foi a profusão de manifestações populares que acontece
no Brasil, inicialmente exigindo a redução do preço das passagens de ônibus,
mas abstratamente vinculadas a protestos contra a corrupção e o mau
gerenciamento do erário público por causa das atividades relacionadas à Copa do
Mundo de Futebol, que, em 2014, será sediada no Brasil, o que demanda gastos
exorbitantes. Para além de eu concordar ou não com o que estava sendo
reivindicado (meu posicionamento determinante em relação às decisões estatais é
impedir que as conseqüências discursivas de cunho negativamente dicotômicos me
afete pessoalmente), desta vez não consegui me esquivar de falar algo sobre o
assunto: eu preciso me manifestar de alguma forma, principalmente em relação àqueles
que me obrigaram simbolicamente a “ir às ruas”,“sair da zona de conforto cibernética”
em que eu me encontro aqui em casa, digitando em frente à tela de um
computador. As coisas não são tão simples e/ou unidirecionais assim...
Além de eu não ter sentido a mínima vontade de participar da
sucursal sergipana das tais manifestações, ocorrida na quinta-feira, 20 de
junho de 2013, irritei-me sobremaneira ao perceber como amigos meus se deixavam
levar por uma condução reivindicativa imitativa, impregnada de chavões
senso-comunais, provenientes de líderes de opinião que, em dias anteriores às
tais manifestações, engrossavam as fileiras de consumidores que justificavam os
tais investimentos futebolísticos agora renegados. Sinceramente, não em sinto
nem um pouco tentado a me enfiar em multidões gritantes para reivindicar aos berros
aquilo que eu sempre fiz, em pequenas e cotidianas ações, ao longo de minha
vida. Para mim, o ato de protestar sempre foi algo perfunctório: o lugar onde
moro e as condições de minha personalidade exigem isso de mim, até mesmo por
vieses involuntários. Não fiz questão de engrossar as fileiras estatísticas de
uma multidão que clama predominantemente pela noticiabilidade mais chinfrim,
aquela que eu condeno enquanto jornalista em potencial, visto que é marcada
pela retroalimentação de padrões. Assim sendo, eu não quis ir à manifestação
susomencionada e não me arrependi de tão decisão!
A minha frustração particular em relação à falibilidade organizacional
de tais manifestações não implique que eu discorde das mesmas, que eu seja absolutamente
contrário a elas. Não é o caso. Porém, não recaio no deslumbramento hiperinterpretativo
que está sendo levado a cabo por alguns espectadores de telejornais, que
enxergam na mesma uma hipertrofia democrática cavalar, a ponto de transformarem
em lema midiático a frase “o gigante acordou” (sic), relacionada aos clamores que
agora tomam de assalto o país geograficamente enorme que é o Brasil. As
questões são mais delicadas e requerentes de análise que essa empolgação
estouvada. Senti-me internamente violentado nos últimos dias, ao me sentir
simbolicamente acusado (por minha descrença essencial em relação ao que estava
ocorrendo) de não participar do levante popular mais ousado e numeroso dos
últimos vinte anos no Brasil. Por enquanto, eu tergiverso: sei não, sei não...
Wesley PC>
2 comentários:
Pra vc ver mais ou menos a minha relação com isso, eu queria ter ido, mas não me arrependo de não ter ido. Eu sou uma pessoa desconfiada, mas quero acreditar que terá algo positivo. Ver que as pessoas estão se movimentando (em massa) é algo que dá uma empolgação, mas não saber (ah minha desconfiança) para onde está se movimentando me deixa a uma certa distância dessa onda de manifestações. De toda forma, talvez eu não esteja tão confuso quanto algumas pessoas que entraram nessa onda de forma mais contudente.
Nesses pontos destacados, tio, eu concordo contigo: estamos na torcida!
Eu só não quero me enfiar nesta multidão... Agora, pelo menos, não me parece o momento... Do jeito como a coisa está sendo conduzida, não mesmo!
Mas que dê certo, que a coisa medre!
WPC>
Postar um comentário