Por motivos nada casuais, as noções de vulgaridade e
sexualidade desenfreada estão fortemente associadas no imaginário crítico que
abomina (não sem razão) os filmes que compõem as cinesséries iniciadas por “American
Pie – A Primeira Vez é Inesquecível” (1999, de Paul Weitz) e “Se Beber, Não
Case!” (2009, de Todd Phillips). Apesar de eu detestar a primeira e gostar
bastante do primeiro filme da segunda, não há como negar que um e outro filme
merecem ser atacados por ofensas similares aos bons valores mancomunadamente
cristãos e pequeno-burgueses. Ambos vinculam-se à hipocrisia machista sobre o
qual se sustenta os protótipos ‘yuppies’ que servem de motivação projetiva aos
espectadores norte-americanos – e pró-capitalistas como um todo, em qualquer
lugar do mundo. Entre um e outro filme instaurador de franquia cômica há uma
diferença fundamental: enquanto o primeiro é balizado pela mentira enquanto
componente discursivo que assegura a estabilidade familiar levada à frente nos
filmes posteriores, o segundo defende-se através do estratagema da inconsciência
justificada e validadora de companheirismo entre homens adultos que conservam hábitos
(libidinosos) adolescentes. E, a despeito do que eu esteja tentando fazer aqui,
é muito delicado (quiçá complicado) diferenciar um de outro tipo...
O parágrafo inicial é requerido por conta da minha
dificuldade em manifestar uma empolgação diferenciada em relação a “Este é o
Meu Garoto” (2012, de Sean Anders), filme que acabo de ver e, por mais
assumidamente hipócrita, machista e vulgar que seja, tem qualidades
humorísticas (quase tragicômicas) mui elogiáveis. Vejamos a partir de seu
enredo, que tem início na década de 1980, quando um personagem de nome Donny,
aceitando a bravata de alguns amigos, paquera a sua professora (então vivida
pela lúbrica Eva Amurri). Irritada pela cantada ousada, que menciona
masturbação, a professora envia o garoto, no auge de seus 14 anos, para a
detenção escolar, mas, lá, atende aos anseios eróticos do rapaz e o desvirgina.
Faz sexo com ele tantas vezes que é desmascarada diante de todo o colégio. Ela
engravida e é condenada a trinta anos de prisão por assédio de menores; ele se
torna um herói nacional por causa da conquista, mas se desentende com o filho,
batizado Han Solo, depois que ele envelhece e resolver ter “uma vida normal”,
transformista num contabilista (interpretado pelo maroto Andy Samberg), prestes
a se casar. Precisando de dinheiro, Donny aparece no jantar preparativo da cerimônia,
não obstante saber que seu filho mudou de nome e alegou para os familiares de
sua noiva que seus pais haviam morrido numa explosão. Por mais desbocado e
tresloucado que Donny seja, entretanto, consegue conquistar quase todos os
convidados, chegando inclusive a fazer sexo com a mãe do chefe de seu filho,
vivida pela espirituosa Peggy Stewart. Contar mais estraga a surpresa do filme,
e o mesmo vale muito a pena ser visto (nem que seja para falar mal)!
Conforme se vê, apesar de o filme ser centrado nos típicos
clichês de comédia hollywoodiana (sabemos que tudo dará certo ao final, que
tudo será deslindarão e que pai e filho farão as pazes), a configuração um
tanto tragicômica de alguns personagens (a professora encarcerada, a ‘stripper’
negra e muito gorda que se alimenta no palco, a outra ‘stripper’ que dança
mesmo com o pescoço com tipóia, etc.) dotam o roteiro de David Caspe, em seu primeiro trabalho específico para o cinema, de um
legítimo interesse: por mais que a condenação do incesto em que a noiva do
filho do protagonista e seu irmão militar se envolvem seja discordante da lógica
aparentemente libertina (em termos comportamentais) do filme, as soluções
enredísticas que defendem a imaturidade de Donny são válidas, seja quando ele
se masturba diversas vezes encarando a foto de uma idosa, seja quando Susan Sarandon
e James Caan surgem como coadjuvantes de luxo para Adam Sandler. É um filme
machista e estruturalmente clicheroso, mas que provoca risos sinceros e
excita-nos de forma perigosa, visto que ele apenas finge corroborar com toda aquela
licenciosidade. Mas eu estou disposto a comprar esta briga: é um filme que deve
ser discutido, tamanha a sua ostensividade acerca das configurações de
camaradagem masculina estimuladas pelas condições imoralizantes do capitalismo
tardio. Eu gostei, mas, do meio para o final, fiquei cabreiro, recuei o sorriso
(e o tesão ). Por mais que eu concorde que amor e enrijecimento fálico às vezes
rimem, não tenciono legitimar os valores sociais cotidianamente economicistas,
que aborda o vício em drogas injetáveis e a prostituição como situações
naturalizadas. O ‘rapper’ Vanilla Ice interpretando a si mesmo em decadência de
carreira que o diga!
Wesley PC>
Um comentário:
Boas reflexões.
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