domingo, 23 de junho de 2013

“SABE O QUE MULHER ADORA? SORVETE!”

Por motivos nada casuais, as noções de vulgaridade e sexualidade desenfreada estão fortemente associadas no imaginário crítico que abomina (não sem razão) os filmes que compõem as cinesséries iniciadas por “American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível” (1999, de Paul Weitz) e “Se Beber, Não Case!” (2009, de Todd Phillips). Apesar de eu detestar a primeira e gostar bastante do primeiro filme da segunda, não há como negar que um e outro filme merecem ser atacados por ofensas similares aos bons valores mancomunadamente cristãos e pequeno-burgueses. Ambos vinculam-se à hipocrisia machista sobre o qual se sustenta os protótipos ‘yuppies’ que servem de motivação projetiva aos espectadores norte-americanos – e pró-capitalistas como um todo, em qualquer lugar do mundo. Entre um e outro filme instaurador de franquia cômica há uma diferença fundamental: enquanto o primeiro é balizado pela mentira enquanto componente discursivo que assegura a estabilidade familiar levada à frente nos filmes posteriores, o segundo defende-se através do estratagema da inconsciência justificada e validadora de companheirismo entre homens adultos que conservam hábitos (libidinosos) adolescentes. E, a despeito do que eu esteja tentando fazer aqui, é muito delicado (quiçá complicado) diferenciar um de outro tipo...

O parágrafo inicial é requerido por conta da minha dificuldade em manifestar uma empolgação diferenciada em relação a “Este é o Meu Garoto” (2012, de Sean Anders), filme que acabo de ver e, por mais assumidamente hipócrita, machista e vulgar que seja, tem qualidades humorísticas (quase tragicômicas) mui elogiáveis. Vejamos a partir de seu enredo, que tem início na década de 1980, quando um personagem de nome Donny, aceitando a bravata de alguns amigos, paquera a sua professora (então vivida pela lúbrica Eva Amurri). Irritada pela cantada ousada, que menciona masturbação, a professora envia o garoto, no auge de seus 14 anos, para a detenção escolar, mas, lá, atende aos anseios eróticos do rapaz e o desvirgina. Faz sexo com ele tantas vezes que é desmascarada diante de todo o colégio. Ela engravida e é condenada a trinta anos de prisão por assédio de menores; ele se torna um herói nacional por causa da conquista, mas se desentende com o filho, batizado Han Solo, depois que ele envelhece e resolver ter “uma vida normal”, transformista num contabilista (interpretado pelo maroto Andy Samberg), prestes a se casar. Precisando de dinheiro, Donny aparece no jantar preparativo da cerimônia, não obstante saber que seu filho mudou de nome e alegou para os familiares de sua noiva que seus pais haviam morrido numa explosão. Por mais desbocado e tresloucado que Donny seja, entretanto, consegue conquistar quase todos os convidados, chegando inclusive a fazer sexo com a mãe do chefe de seu filho, vivida pela espirituosa Peggy Stewart. Contar mais estraga a surpresa do filme, e o mesmo vale muito a pena ser visto (nem que seja para falar mal)!

Conforme se vê, apesar de o filme ser centrado nos típicos clichês de comédia hollywoodiana (sabemos que tudo dará certo ao final, que tudo será deslindarão e que pai e filho farão as pazes), a configuração um tanto tragicômica de alguns personagens (a professora encarcerada, a ‘stripper’ negra e muito gorda que se alimenta no palco, a outra ‘stripper’ que dança mesmo com o pescoço com tipóia, etc.) dotam o roteiro de David Caspe, em seu primeiro trabalho específico para o cinema, de um legítimo interesse: por mais que a condenação do incesto em que a noiva do filho do protagonista e seu irmão militar se envolvem seja discordante da lógica aparentemente libertina (em termos comportamentais) do filme, as soluções enredísticas que defendem a imaturidade de Donny são válidas, seja quando ele se masturba diversas vezes encarando a foto de uma idosa, seja quando Susan Sarandon e James Caan surgem como coadjuvantes de luxo para Adam Sandler. É um filme machista e estruturalmente clicheroso, mas que provoca risos sinceros e excita-nos de forma perigosa, visto que ele apenas finge corroborar com toda aquela licenciosidade. Mas eu estou disposto a comprar esta briga: é um filme que deve ser discutido, tamanha a sua ostensividade acerca das configurações de camaradagem masculina estimuladas pelas condições imoralizantes do capitalismo tardio. Eu gostei, mas, do meio para o final, fiquei cabreiro, recuei o sorriso (e o tesão ). Por mais que eu concorde que amor e enrijecimento fálico às vezes rimem, não tenciono legitimar os valores sociais cotidianamente economicistas, que aborda o vício em drogas injetáveis e a prostituição como situações naturalizadas. O ‘rapper’ Vanilla Ice interpretando a si mesmo em decadência de carreira que o diga!


Wesley PC>