Para aquém da má qualidade estrutural de “Aberrações de uma
Prostituta” (1988), filme mais execrável do esforçado porém comumente medíocre diretor
da Boca do Lixo Francisco Cavalcanti, há uma polêmica que o vincula a uma
remontagem oportunista de “O Filho da Prostituta” (1981), que, pela similaridade
de sinopse e elenco, periga ser exatamente o mesmo filme! Como acabo de vê-lo
sob a titulação de 1988, é assim que eu me referirei a ele...
Reaproveitando elementos de seus filmes anteriores [os
estupros coletivos no chão de “Os Tarados” (1983), as mulheres que tomam banho em meio
ao perigo de “Os Violentadores de Meninas Virgens” (1983), a reconstituição da
zona histórica de meretrício em “Ivone, a Rainha do Pecado” (1984), etc.], o
roteiro deste filme é de fazer vergonha ao próprio Francisco Cavalcanti: um
simplório jardineiro (vivido por ele mesmo, claro, mas dublado por outra
pessoa) conduz a sua bicicleta por uma paisagem rural, em direção à casa em que
trabalha. Pára para mijar num dado lugar e descobre o cadáver de seu patrão
enterrado no chão. Tenta comunicar o fato aos demais empregados do local, mas
um homem igual ao falecido aparece em seu lugar. Ele volta para casa, conta o
fato à sua esposa e, mais tarde, ela e o filhinho pequeno deles serão raptados
pela gangue do usurpador, na verdade, um irmão gêmeo do milionário assassinado,
sendo ambos filhos de uma prostituta que engravidara de um cliente rico, que
resolveu criar apenas um deles. Com a ajuda dos empregados (um homossexual
afetado, uma mulher muito gorda e um homem machista que é paquerado pelos
outros dois) e dos vizinhos (incluindo um inacreditavelmente canastrão Jofre
Soares), o casal consegue escapar do cativeiro, junto com seu filho pequeno e
mulheres que foram seviciadas pelos capangas do bandido, mas precisarão engendrar
uma verdadeira hégira para sobreviverem. Após um tiroteio canhestro, os aprisionados
conseguem recuperar a sua liberdade, não obstante as mulheres do grupo estarem
despidas e violentadas. Tem como levar a sério uma trama destas?
Por mais que seja inegável que o enredo tenha muito a ver
com os demais filmes do diretor, confirmando a sua sanha autoral à la Charles
Bronson, aqui Francisco Cavalcanti erra todas as mãos, realiza um filme muito
pior do que ele próprio nos acostumou a esperar... Nada funciona: nem o estapafúrdio
‘flashback’ que explica a separação dos irmãos gêmeos, nem as piadas lipofóbicas
e homofóbicas, nem a participação endurecida do recorrente Satã, nem os
enxertos forçados de sexo (horrendos!)... Nada! A montagem é tão tosca que, em
meio a um diálogo, flagramos os empregados da casa da fazenda bisbilhotando um
casal que fodia de qualquer jeito, logo após o macho da relação ter atrapalhado
uma cópula lésbica minutos antes. Por mais violentas ou pretensamente tensas
que sejam as seqüências de ação, as mulheres estão sempre com os seios e as
nádegas à mostra, mesmo quando há uma criança pequena (insuportável) em cena.
Difícil suportar os 110 minutos de projeção deste péssimo filme. Não sei nem o
que comentar sobre ele: puro arremedo de obras mais interessantes (em sua
esculhambação moralista) do próprio Francisco Cavalcanti, que, aqui, realiza a
sua pior produção, de longe. O filme chega a ser bem pior que o nojoso “Sexo,
Sexo, Sexo” (1984), o mais desagradável e tedioso de seus filmes até então.
Erca! Mas ainda tenho muita vontade de conhecer mais filmes deste diretor,
principalmente o originalíssimo “O Filho do Sexo Explícito” (1985). Que venham:
preciso suplantar estas imagens (e sons, pois o filme é muito barulhento) desataviadas
em minha cabeça!
Wesley PC>
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