terça-feira, 14 de maio de 2013

POR QUE INSISTEM EM REFILMAR DE FORMA DELETÉRIA O QUE JÁ FORA REALIZADO DE FORMA SUBLIME?

Juro que não parei de repetir isso em minha mente enquanto via “O Homem que Ri” (2012, de Jean-Pierre Améris) na noite de ontem. Por mais que a origem francesa da produção e o seu embasamento no original literário de Victor Hugo o protejessem comparativamente da obra-prima homônima que Paul Leni realizou em 1927, fiquei envergonhado enquanto via o filme. A coadjuvante Christa Théret é linda, o desempenho de Gérard Depardieu é aplaudível, a trilha sonora de Stéphane Moucha é graciosa e a homenagem circense da produção é pitoresca, mas nem mesmo a presença de Emmanuelle Seigner conseguiu salvar este filme do fiasco apreciativo: achei o protagonista Marc-André Grondin péssimo e detestei o ritmo alvoroçado do roteiro, levando-me a continuar repetindo a pergunta que intitula esta postagem ainda hoje: por quê?!

 Tal sanha regravadora (por falta de expressão imediata mais ofensiva) é comum em Hollywood, que parece se vangloriar de perder a imaginação criativa e parasitar até mesmo clássicos recentes, mas a contaminação francesa me parece deveras preocupante, principalmente se levarmos em consideração a existência de exceções bem-sucedidas a esta regra de deterioração imitativa, como, por exemplo, o magistral “Os Miseráveis” (2012), realizado pelo medíocre Tom Hooper. Durante toda a sua extensão (95 minutos), o filme me irritou por causa de sua artificialidade constitutiva, de soluções pretensamente estilosas (que plagiam descaradamente o universo burtoniano) que resvalam na estupidez reiterada, como insistir numa pretensa diegetização da música realizada através de copos cheios d’água pelo personagem Sylvain (Swann Arlaud) que entra em conflito com os corais inseridos na mesma. Quanto mais eu percebia que o filme estava a subestimar a minha inteligência, mais ele insistia em repetir os seus defeitos composicionais, tornados aberrantes ao final da projeção, quando nem mesmo a tragicidade imponente da trama se mantém: Gwynplaine se mata afogado, a cega Déa ingere arsênico e não temos certeza se Ursus conseguiu chorar pela primeira vez em sua vida, mas tudo se desperdiça na vacuidade organizacional do filme, dirigido de maneira preguiçosa e, ao mesmo tempo, pretensiosa. A fotografia parece exuberante, mas é falsa, descompassada, disfuncional. Uma pena: o filme tinha tudo para dar certo!

 Wesley PC>

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