sexta-feira, 1 de março de 2013

“SEMPRE RESTA ALGUMA COISA NO JARDIM DAS ILUSÕES”... (OU UM POUCO MAIS DE MACHADO DE ASSIS PARA CONSOLAR CORAÇÕEZINHOS AFLITOS):


“O sentimento penoso que acompanha a dúvida não é a dor, mas a angústia. A angústia nasce na incerteza de um perigo temido; ao passo que a dor é a certeza de um mal já realizado” (J.-D. Nasio – “A Dor de Amar” (2005) – página 84 da edição que ganhei de presente).

Tive acesso à citação psicanalítica supracitada logo após ter visto “Que Estranha Forma de Amar” (1978, de Geraldo Vietri), surpreendentemente baseado num romance de Machado de Assis que ainda não li. O procurei aqui em casa, mas não o encontrei. Por ora, consolar-me-ei, portanto, com as belas e dramáticas imagens dirigidas por um dos diretores honorários da Boca do Lixo paulistana, mais conhecido pelos seus trabalhos como condutor de telenovelas na extinta emissora Tupi.

No filme, protagonizado por um jovem e muito bonito Paulo Figueiredo, um rico e maduro viúvo, de nome Luiz Garcia (Wilson Fragoso), adentra um sarau promovida pela rica senhora Valéria (Dina Lisboa), que deseja casar o seu filho recém-formado em advocacia com uma jovem pianista, Eulália (Márcia Maria). Ele, porém, está apaixonado por sua irmã de criação, Estela (Berta Zemel), mais velha e modesta que ele, que, por estes motivos, afasta-se, retrai-se. O bacharel em Direito, de nome Jorge, alista-se então na recém declarada Guerra do Paraguai (1864-1870), de modo a suplantar o seu amor perdido. Cinco anos depois, quando volta para o Rio de Janeiro, encontra a sua amada casada com Luiz, com quem se correspondia. Como ele nunca revelara o nome de sua amada, o melhor amigo de Jorge permanece alheio acerca do objeto feminino de desejo do rapaz, que, aos poucos, deixa-se atrair pela filha de Luiz, Iaiá Garcia (Solange Theodoro), já deslumbrada por ele. Talvez não seja sempre que um novo amor cura uma paixão não cicatrizada...

Apesar de um tom enredístico e interpretativo relativamente frio, o filme me encantou pela sobriedade, pela ótima reconstituição de época, pelas atuações adequadas, pela fidelidade temática ao argumento machadiano. Sem contar que, por algo que não me atrevo a tachar de coincidência, os desmazelos amorosos desta trama têm muito a ver com o que eu próprio sentia no momento e que compartilhava sutilmente com uma correspondente amargurada, justamente a encantadora rapariga que me presenteou com o livro psicanalítico em pauta. Para mim e para ela, sigo lendo “A Dor de Amar”:

“A angústia é a reação à ameaça da perda de objeto, isto é, à idéia de que nosso amado pode faltar. Assim, a angústia é associada à representação consciente daquilo que pode ser a ausência do outro amado. Em termos lacanianos, diríamos: a angústia surge quando imagino a falta; ela é uma resposta à falta imaginária”.

Eu outras palavras, tanto eu quanto ela imaginamos e sentimos a falta. Fazer o quê? Este é o nosso carma, esta é a nossa estranha forma de amar! Próximo passo: buscar e ler “Iaiá Garcia” (1898).

Wesley PC> 

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