quinta-feira, 21 de março de 2013

MAL TERMINEI DE VER O FILME, PUBLIQUEI ALGO SOBRE ELE NO FACEBOOK:


"- Ai que susto tu me deste! Quase que o meu coração pula pela boca...
 - Oh, que pena que ele não caiu... Se ele tivesse pulado, eu pegaria ele todinho para mim!"


 Ou de como fechar os olhos pode deixar de ser um gesto simbólico e legitimar por omissão aquilo que é propositalmente vendido como vulgaridade, para assustar os compradores de boa moral, e, na verdade, escamoteia a legitimação do que de mais ofensivo existe em matéria de normatividade monogâmico-sexual-classista... 

 Lembro que, quando este filme estava em cartaz nos cinemas, eu senti curiosidade de vê-lo, com a desculpa de que, mesmo sabendo se tratar de um filme carioca produzido pela Globo Filmes, houvesse algo ali que tentasse usurpar a (má) fama das antigas pornochanchadas, com intuitos bastante diversos, mas igualmente bem-sucedidos no que tange à hipnose moralista da audiência chauvinista. Tendo visto o filme na manhã de hoje, surpreendi-me ao confirmar que as minhas impressões não apenas estavam corretas como o filme pretende dar um passo além nesta intenção: é um filme de conversão matrimonial quase religiosa! 

 Por mais que os diálogos vulgares (porém absolutamente verossímeis) do Marcelo Rubens Paiva conduzissem a minha experiência espectatorial para um viés repulsivo, a ótima trilha sonora de Plínio Profeta, os bons desempenhos do elenco e as diferenças efetivas (porém homogeneizadoras, ao final) entre os personagens principais me fizeram valorizar o filme enquanto bom produto cinematográfico, por mais deletério que ele seja moralmente (melhor seria dizer moralisticamente) e estilisticamente. 

Não sei até que ponto este filme reproduz uma tendência "nacional", mas é um interessante registro de época, um espelho sobre a classe média executiva carioca, em que o excesso de masturbação e a promiscuidades são apenas passos para a felicidade inevitável de um casamento tipicamente nuclear, ainda que este seja o sexto ou o nono na vida do indivíduo (obviamente masculino, pois mulheres aqui são apenas "extensões"). Impressionado com o que vi e ouvi neste filme, só me resta diferenciá-lo radicalmente daquilo que insistem em batizar como 'pornochanchadas', por medo de investirem numa comparação mais profunda, orgânica, até mesmo genital. Fechar os olhos, neste caso, equivale a um estratagema previamente agendado pelos produtores do filme.

 Por tudo isso, eu recomendo E AÍ... COMEU?. É um filme que merece discussão sobre a decadência de nossos valores. Ou não? É tudo delírio meu, o filme é um lixo absolutamente inaproveitável e talvez eu tenha sido enfeitado por ele, dada a associação com pessoas reais muito assemelhadas aos protagonistas? São perguntas que o tempo (e talvez a minha dissertação de Mestrado) apenas se preocuparão em aumentar...

Assim publiquei em meu perfil pessoal, ansiando menos por respostas que por mais perguntas. Ter visto este filme após analisar "O Gosto do Pecado" (1980, de Cláudio Cunha) me deixou pensativo: não apenas porque ambos os filmes debatem a questão do divórcio (o que traz à tona um desagradável personagem real), mas porque o segundo mente muito mais do que o primeiro. "E Aí... Comeu?" (2012, de Felipe Joffily) é pura enganação, apesar de não ser tão ruim enquanto filme. Como pode este paradoxo se sustentar? Preciso de perguntas (e de mais lembranças)!

Wesley PC>

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