“A dor não é estar insatisfeito, mas, pelo contrário, estar
entregue a uma insatisfação fora de medida. A insatisfação das pulsões refreadas
pelo recalcamento é, de fato, menos penosa que a satisfação absoluta que essas
pulsões teriam obtido se não tivessem sido detidas pela censura. Sem a censura
do recalcamento, conheceríamos a derradeira dor de um gozo ilimitado. Assim, o
recalcamento nos protege contra a hipotética dor da explosão do ser” (J.-D. Nasio
– “A Dor de Amar” – página 146).
Posso calar a boca?
Posso agradecer pelo recalque imputado?
Posso admitir que tive vergonha de mencionar o título do
livro num SMS?
Posso poder?
Numa página anterior (p. 104), o próprio autor me responde: “o
perverso não pode absolutamente nada! São criaturas tristes, que, exceto nesses
momentos de excitação que são as cenas de perversão, ficam mal, muito mal,
apagam-se completamente. Há três estados para o perverso clínico: o estado de
excitação quando o impulso o habita; o estado de tristeza após o ato perverso
(a experiência perversa é em geral uma série de fracassos retumbantes, e ainda que
não haja fracassos, o perverso é triste); e o terceiro estado é um estado de tédio,
a vida é um tédio. Em geral, são intelectuais; não se pode negar, não são artesãos
nem pedreiros, em geral estão entre os professores, entre pessoas como nós. O
perverso tem apenas, em contrapartida, uma capacidade extraordinária, um dom
extraordinário – nisto, é superior a todos nós –, o dom de encenar seu desejo
perverso”. Isso eu não tive vergonha de compartilhar. Mas, oficialmente, eu não
sinto tédio. Não é preciso sentir tédio...
Wesley PC>
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