Todos nós cometemos erros. Em mais de uma situação, estes
erros nos definem. Sou um produto dos meus erros e, como tal, sinto um estranho
orgulho deles: não por tê-los cometido, mas por saber que eles são meus. Ainda
assim, tenho receio de, um dia, me converter a alguma destas igrejas neopentecostais
que operam verdadeiras lavagens cerebrais na mente de seus fiéis. Sou amante de
Deus, mas não me imagino abandonando o meu alvedrio para professar este amor.
Infelizmente, é o que muitos fazem: uma vez, bateram em minha porta. Fui
atender e se tratava daquelas visitas rotineiras de Testemunhas de Jeová. Um
deles era um rapaz que estudou comigo no Ensino Ginasial. Timóteo era o seu
nome, e ele gostava de jogos eletrônicos, revistas em quadrinhos e filmes do
Tinto Brass. Puxei assunto com ele sobre nossos gostos em comum ele foi
taxativo: “queimei tudo aquilo, Wesley. Hoje sou outro homem, libertei-me de
meu passado!”. Não quero que isso aconteça comigo. Não desse modo forçosamente instituído,
pelo menos!
Pois bem, quando soube que o inusitado filme francês “Jimmy
Rivière” (2011, de Teddy Lussi-Modeste) seria exibido na TV fiquei exultante. Na
trama, um jovem boxeador cigano (muito bem vivido por Guillaume Gouix, merecidamente
indicado como Melhor Ator Revelação no prêmio César 2012) converte-se a uma
dessas igrejas neopentecostais supracitadas e passa a renegar, ao menos em
discurso, tudo aquilo que mais aprecia: as lutas, a bebida, as danças, o sexo
com uma rapariga apaixonadíssima por ele... Mas tudo volta para pôr em xeque a
sua fé!
Na primeira cena do filme, acompanhamos o passeio em câmera lenta
do protagonista, ao lado de outros ciganos, por um bosque. De repente, todos
eles se acocoram, abaixam os calções e defecam. Costume cigano, talvez. Na cena
seguinte, acompanhamos o batismo evangélico de Jimmy Rivière. Num instante
consecutivo, sua namorada aparece, fingindo procurar brincos valiosos, mas, na
verdade, querendo fazer sexo com ele, que se esquiva. Ela: “este Cristo é realmente muito forte, mas não o consegue te impedir de ficar excitado”. Ele não resiste e cede
à tentação. Não apenas nesta situação, mas em diversas outras, visto que a sua
agenciadora de boxe (vivida pela exótica e maravilhosa Béatrice Dalle) o
persegue. Não o condenamos por ser humano, mas incomodamo-nos ao perceber que
ele insiste em mentir para si mesmo e para os outros. O desfecho do filme,
felizmente, não resolve o conflito: deixa-o em aberto, pois sabemos que Jimmy
continuará a lutar consigo mesmo por muito tempo – e arrastando quem o ama
nesta indecisão. Não quero ficar assim. Não me deixem ficar assim, por favor!
Amo voluntariamente (o que eu acho que seja) Deus, mas isto não me impede de ser
eu mesmo – muito pelo contrário, aliás: só sou o que sou porque Deus permite!
Wesley PC>
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