domingo, 24 de fevereiro de 2013

OFICIALMENTE, VAMOS FALAR DO SOCAR 2013!


Hoje, domingo, como é praxe há vários anos, eu e meus melhores amigos estaremos reunidos para ver e comentar a cerimônia de entrega dos prêmios Oscar. Momento máximo da indústria hollywoodiana – por mais que, ideologicamente, esta premiação não corresponda efetivamente à láurea dos melhores do ano, mas sim um elogio àqueles filmes que possuem os melhores estrategistas publicitários – não há como um cinéfilo não se deixar influenciar nalgum instante do mês de fevereiro pelos indicados do ano.

 No que tange aos filmes indicados à 85ª edição da premiação, programada para hoje à noite, surpreendeu-me positivamente que alguns dos principais nomeados fossem embasados em pressupostos históricos e/ou políticos, ainda que enviesados. Pode-se reclamar que filmes interessantíssimos como “O Mestre” (2012, de Paul Thomas Anderson – ainda não visto, mas com sessão programada para ainda hoje), “O Vôo” (2012, de Robert Zemeckis) e “Moonrise Kingdom” (2012, de Wes Anderson) não tenham sido mais valorizados, mas, ainda assim, dentre os nove filmes indicados à categoria principal, algumas observações positivas devem ser enumeradas:

  • ·         “Amor” (2012, de Michael Haneke) – nota aproximada: 10,0. Indubitavelmente, o melhor em qualquer categoria, indicado a cinco prêmios, favorito na categoria Melhor Filmes Estrangeiro e muitíssimo bem cotado para Melhor Direção, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz (Emmanuelle Riva). É um filme emocionante, visto numa maravilhosa sessão entre amigos (comentada aqui), que surpreende pela rigorosa demonstração do título a partir de uma trama dolorosa, em que o marido apaixonado e idoso de uma senhora que sofre um derrame cerebral lida com o avanço degenerativo de sua doença. Uma obra superlativa, impecável em mais de um aspecto, para ser revista mais de uma vez, preferencialmente ao lado de quem se ama...;


  • ·         “Os Miseráveis” (2012, de Tom Hooper) – nota aproximada: 9,5. Fiquei absolutamente apaixonado por este filme, quando o vi pela primeira vez, ainda sem legendas e que, de lá para cá, já foi visto mais duas vezes, uma delas no cinema, com incremento lacrimal e passional de uma sessão para outra. Admito que o filme é problemático em seu conflito interno mal-resolvido entre pulsões políticas e adesões namorativas, mas, ainda assim, ele me encanta, me seduz, me faz suspirar... Torço para que ele receba alguns prêmios (a vitória de Anne Hathaway na categoria Melhor Atriz Coadjuvante é mais do que certeira e merecida!), é o meu favorito dentre os anglofílicos.


  • ·         “As Aventuras de Pi” (2012, de Ang Lee) – nota aproximada: 9,0. Por ser um trabalho sobre religião, ele me tocou pessoalmente, mas o que me surpreendeu aqui foi como o diretor Ang Lee, obcecado pelo tema do questionamento da autoridade paterna, eleva isto a uma categoria mais elevada, evocando as palavras de Jesus Cristo quando estava sendo crucificado. Tecnicamente, aliás, o filme é arrebatador e talvez receba alguns lauréis nas categorias sonoras, e em Melhores Efeitos Visuais e Melhor Fotografia;


  • ·         “Lincoln” (2012, de Steven Spielberg) – nota aproximada: 9,0. Apesar de o filme incomodar pelas aparições inconvenientes de um garotinho que atravessava a tela o tempo inteiro, apenas para lembrarmos que se trata de um elogio familiar, e por causa da trilha sonora xaroposa e triunfalista do envelhecido e desgastado John Williams, Daniel Day-Lewis está mediúnico como o protagonista, Tommy Lee Jones está excelente como um parlamentar rabugento e o roteiro foi bastante acertado ao evitar uma biografia tradicional e focar nas atividades legislativas do presidente. É um dos filmes mais sérios e adultos do diretor. Vale muito a pena, apesar de não efetivamente entretenedor (no sentido mais senso-comunal do termo);


  • ·         “A Hora Mais Escura” (2012, de Kathryn Bigelow) – nota aproximada: 8,0. Tenho certeza de que, se eu revir este filme, eu gostarei bem mais dele, visto que a sua longa duração e o estilo frio me intimidaram num primeiro contato, mas é muitíssimo bom, magistralmente dirigido, mas, infelizmente, peca pela má escolha da protagonista, visto que a competente Jessica Chastain não dota de suficiente interesse e/ou vigor a sua impávida personagem. Vale a pena ser revisto. Se ele receber qualquer prêmio (torço por ele em Roteiro Original, dada a impressionante pesquisa de Mark Boal), fico contente!;


  • ·         “Django Livre” (2012, de Quentin Tarantino) – nota aproximada: 7,0. Apesar de este filme ter me irritado deveras (por causa de sua conversão da monogamia em instrumento genocida), tenho que admitir que ele não é ruim, que a direção tem bons momentos, que a trilha sonora anacrônica é divertida e que, num ou noutro aspecto, ele funciona enquanto cinema, sendo melhor que a atrocidade nomeada “Bastardos Inglórios” (2009), que o diretor realizou há alguns anos. Digo para outrem que não gosto deste filme, mas ele não é ruim. É mau!;


  • ·         “O Lado Bom da Vida” (2012, de David O. Russell) – nota aproximada: 5,0. Bradley Cooper é (e está) lindo e verossímil, Jennifer Lawrence está soberba em sua personagem ninfômana e descontrolada e as cenas em que eles contracenam justificam o sucesso do filme, mas a direção é regressiva em relação a outros trabalhos do diretor, Jacki Weaver e Robert De Niro estão péssimos como os pais do protagonista, Chris Tucker dá nos nervos sempre que está em cena e os diálogos são pura reiteração do ideal estadunidense de enfrentamento economicista de situações privadas. Um porre, mas, ainda assim, gracioso em seus aspectos românticos;


  • ·         “Argo” (2012, de Ben Affleck) – nota aproximada: 5,0. Ben Affleck está muito bem (e bonito, claro!) como protagonista e a direção não é ruim, admito, mas o filme é vergonhoso em sua infantilização de eventos políticos basilares, oportunamente trazidos à tona num momento em que Irã e EUA enfrentam-se novamente no cenário internacional. Este é um lamentável filme de propaganda, que, pelo visto, receberá prêmios relevantes, apesar de ter sido em algumas categorias em que tinha tudo para ser o favorito. Não gosto do filme, acho-o precário, mas, infelizmente, é disto o que a Academia de votantes do Oscar precisa: autocelebração!;


  • ·         “Indomável Sonhadora” (2012, de Benh Zeitlin) – nota aproximada: 4,0. Pior que qualquer outro filme indicado em qualquer categoria (pelo menos, dentre os que eu já vi até então), este filme é uma vergonha crassa, uma obra de exploração alheia (ao contrário do que dizem, a garotinha de 6 anos Quvenzhané Wallis não atua bem, o que nem é um problema, já que ela é uma criança, deveria ser tratada como tal), uma pífia abordagem despolitizada dos conflitos pessoais que se instauram em regiões geográficas afligidas por catástrofes naturais. Um nojo!


Estas são as minhas opiniões gerais. Mais tarde, volto para falar sobre o que achei da premiação. Conforme antecipei no primeiro parágrafo, estou empolgado: a entrega de prêmios desta noite tem tudo para ser imprevisível e justa – a não ser que, conforme esperado, o panfletário e racionalmente limitado “Argo” triunfe!

Wesley PC> 

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